Diálogo 1
- Você não sabe quem eu encontrei na rua, lembra daquela minha amiga da faculdade que casou com um belga?
- Lembro sim. Como ela está?
- Está ótima, os filhos estavam com ela. Uns fofos!
- Ela perguntou por mim?
- Perguntou por você? Como assim? Ela nem conhece você!
- Ah, mas ela podia ter perguntado por mim...
- Hã? Ela é MINHA amiga, eu não a vejo faz quase dez anos e ela deveria perguntar por VOCÊ? Você não acha que isso é ser muito egocêntrico?
- Não vejo nada demais nisso...
Diálogo 2
- Acabei de ser assaltada no ônibus, levaram meu relógio e minha aliança!
- Nossa que violência! Eles roubaram mais alguém?
- Sim, outras duas pessoas. Não sei mais como vou andar na rua, eu vivo com medo, fico suando frio quando entro no ônibus... (pausa para um choro comprido).
- Olha, fica calma, eu também sofro isso todos os dias. Você não sabe como eu ando tenso!
- Você? Tenso? Mas você só anda de carro, nem me lembro da última vez que você entrou em um ônibus!
- Ah, você nem sabe, a violência está em todos os lugares... Quando eu paro no sinal, fico logo tenso olhando para os lados!
- Você está querendo dizer que andando de carro, com os vidros fechados, no ar-condicionado, sofre a mesma angústia que eu que sou mulher e ando a pé e de ônibus, muitas vezes tarde da noite?!?
- Você não entende, eu sofro tanto quanto você!
-Dai-me paciência, Senhor...
Diálogo 3
- A sua filha está sofrendo com a perda do pai, mas pelo menos a situação está resolvida. As minhas é que sofrem com o pai problemático...
- Como?!?
- É, a sua pelo menos sabe que o pai não vai voltar, mas as minhas, coitadas, nunca sabem quando o pai vai aparecer.
- Você está dizendo que é melhor o pai morto do que um pai instável, mas que está vivo e pode ser encontrado quando elas quiserem? É isso mesmo?
- Menina, você nem sabe o sofrimento das minhas filhas. Você acredita que ele mandou um cartão de presente de Natal?
- Ô... Imagino quanto sofrimento...
Diálogo 4
- Ele não podia ter me abandonado, eu vivi para ele e para a casa a vida toda!
- É... Ele disse que tentou conversar com você várias vezes e que você não quis ouvir.
- É, mas ele devia ter me sacudido! Me obrigado a escutar! Ele tinha que ter me obrigado a ir ao médico, eu estava deprimida!
- Ele disse que estava doente, perdia sangue quando ia ao banheiro...
- Isso é verdade! Um absurdo de sangue!
- E você não achou que ele estava doente? Não ficou preocupada? Pode ser algo sério, pode ser um câncer...
- E você queria que eu fizesse o quê? Arrastasse ele para o médico?
- Mas você acabou de dizer que ele tinha que ter sacudido você, que tinha que ter levado você ao médico... Só vale para um lado, é isso?
- Não é isso, é que ahun... anhhh...
- Não entendi.
- Você não sabe o que eu passei!
- Ah, tá.