Eu esperava ficar deprimida, tão inconsolável que as tarefas do cotidiano seriam um peso que eu não poderia suportar e eu me trancaria no quarto por semanas sem ânimo para nada. Esse era o pior quadro que eu poderia imaginar para quem perde uma pessoa querida, mas não é bem assim que as coisas acontecem. É pior. Eu não esperava ter crises de ansiedade, angústia, palpitações e suores. Nunca me falaram sobre os sintomas físicos e a dor que eu sentia nas costelas nas primeiras semanas era tão grande que eu procurei um cardiologista e outros especialistas, em busca de um mal real ou imaginário. Eu não imaginava que continuaria respirando, trabalhando e vivendo porque não existe outra alternativa, você simplesmente precisa continuar seguindo em frente e ninguém pergunta se você pode ou não fazer isso. Nas primeiras semanas eu só pensava em como eu iria viver, que decisões tomar, o que fazer... Não podia nem pensar em fazer nada de diferente da minha rotina, as pequenas tarefas do cotidiano já eram um desafio enorme, imagine enfrentar novos desafios! Evitei os compromissos que exigiam conhecer novas pessoas, viagens ou qualquer outro tipo de atividade estressante. Eu que era tão corajosa e destemida conheci o medo, um medo enorme, espectral, quase um Nazgûl de Tolkien! Aos poucos fui buscando vencer os meus medos, sempre receosa em falhar. Comecei aceitando compromissos mais próximos que exigiam viagens curtas (sempre acompanhada) e percebi que podia controlar a dor ao respirar por algumas horas. No final de outubro fiz uma viagem sozinha à trabalho. Foi uma viagem complicada que exigiu muito de mim, mas foi o primeiro passo para eu voltar a respirar. Criei coragem e aceitei outro convite para o Rio de Janeiro. Encontrei uma velha amiga, vi o meu afilhado grande e bonito e consegui respirar mais ainda. Esse processo tão doloroso me mostrou que a esperança é um fio que precisamos tecer com cuidado e não deixar nunca que ele arrebente. O fio de esperança para este ano é poder retomar a minha vida com a coragem e tranquilidade que sempre tive, concentrando todos os meus esforços no que é realmente importante: cuidar da minha filhinha e respirar sem sentir aquela dor fininha no fundo do peito. É a esperança de estar, aos poucos, melhorando...
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