No filme Unconditional Love tem um diálogo que pode ser resumido mais ou menos assim: não importa se você for roubado, traído, maltratado, seu amor continua inabalável, independente do que o outro faça e mais: o outro não precisa sequer amar você de volta. Parece meio doentio (e é!), mas eu penso que o contrário também é estranho (eu só amo se você fizer isso ou aquilo) porque parece uma barganha ou um negócio. O caminho do meio entre os dois extremos pode ser o que eu e o Sr. T chamávamos de "apesar de". Todas as vezes que tínhamos alguma crise no nosso relacionamento, a ponderação era a capacidade de amar apesar dos defeitos do outro, das incompreensões e do próprio desgaste do relacionamento. O que eu chamo de desgaste é o processo de reavaliar a relação diante de cada crise. Neste momento, colocamos na balança o tamanho do nosso amor com as coisas boas do relacionamento e o fator que gerou a crise. Se a balança pender para o lado do amor, perdoamos e seguimos a nossa vida, se o fator da crise for maior que o amor temos duas alternativas: rompemos imediatamente ou guardamos ressentimentos que vão se acumulando ao longo do tempo. O grande problema é que os fatores nunca saem da balança, por mais que você os expulse. Toda vez que estamos em crise, não apenas o problema imediato é colocado para ser pesado, mas todos os antecedentes do relacionamento. É justamente aí que mora o perigo... O nosso "apesar de" era muito mais que perdoar o outro ou relevar o problema, era uma escolha. Eu escolho amar você apesar de você ter me magoado e como minha livre escolha, eu sou o único responsável por ela. E quando se é responsável pelas próprias escolhas, não cabe infligir ao outro as nossas frustrações e anseios. Talvez a maior complexidade do amor seja justamente a dialética entre dividir/ceder e ser autônomo.
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