No meu relacionamento com o Sr. T, eu era a ciumenta e isso não era algo velado ou mal resolvido, pelo contrário! Fazia parte do nosso acordo de convivência, eu podia ter crise de ciúmes daquelas de quebrar pratos e dar sapatadas na cara, mas ele não. Se ele ousasse transpirar qualquer tipo de desconfiança, eu vinha logo com o discurso "você é machista, opressor" etc e tal. É, eu sei que é injusto e provavelmente esquizofrênico, mas era assim mesmo. Mas o meu ciúme não era daquele tipo que desconfia até da própria sombra ou que coloca a culpa nas mulheres. Eu tenho horror de mulheres que culpam as outras pelos deslizes dos seus parceiros e ainda querem brigar (com as outras) por isso. O meu foco não era nas outras mulheres, não estou nem aí para o resto do mundo, o meu problema era o Sr. T se interessar (mesmo que superficialmente) por qualquer outra pessoa. Diante dos meus rompantes, ele sempre tinha um discurso articulado e me provava por A mais B, o quanto ele era equilibrado, seguro e não sujeito às birras e crises de ciúme. Você caiu nessa? Não? Pois eu caí! Então, senta que lá vem história: há alguns anos atrás, eu tinha terminado uma disciplina e não entreguei o artigo final no prazo combinado. O professor ligou para todos os alunos cobrando, inclusive para mim. No dia da ligação, eu tinha deixado o celular em casa e o Sr. T atendeu e conversou com o meu professor. Quando cheguei em casa, ele transmitiu o recado e estava bastante preocupado porque o tal professor disse que ia entregar as notas no dia seguinte e quem não entregou o trabalho seria reprovado. Fiquei comovida com a preocupação sincera do Sr. T pela minha carreira acadêmica, enviei o bendito artigo e esqueci o assunto. Meses depois, encontro o professor na Universidade e ele (constrangido) me pede desculpas por ter ligado cobrando o artigo. - Ora, o que é isso, o senhor tinha todo o direito de cobrar a tarefa dos alunos. Eu é que peço desculpas por ter sido relapsa. Daí ele me conta que o meu marido tinha ficado bastante aborrecido com a tal ligação e fez um monte de perguntas e a-ca-bou com ele. Entre incrédula e morrendo de vergonha, perguntei se ele tinha certeza que era mesmo o Sr. T. (juro que tive certeza de que era o marido de outra aluna). Quando ele confirmou o diálogo reproduzindo frases que eram mesmo a cara do Sr. T, fiquei bege! Sabe aquela expressão de olhos apertados e cara de vilã de novela? Era a minha! Equilibrado, hein? Seguro, heinnn? Rá! Resolvi guardar a carta na manga e me confrontar com o Sr. T na minha próxima crise de ciúmes (que acabou não acontecendo). Agora, quando me lembro das coisas que gostaria de ter dito ao Sr. T, acabo rindo ao lembrar que ele não ficou sabendo da minha descoberta: ele era tão ciumento (ou mais) do que eu!
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