As pessoas sempre me perguntam como eu suporto a viagem que é o trajeto da minha casa até o trabalho. Eu não vejo muita diferença no tempo que eu levo hoje para chegar ao trabalho do que eu levava quando morava no Rio. Os engarrafamentos homéricos que já enfrentei dariam um livro (meio parado, é claro, mas mesmo assim impressionante, pois já fiquei cinco horas presa em um engarrafamento). Claro que fico cansada em alguns momentos, mas eu gosto de dirigir e a estrada tornou-se a minha terapia. É o lugar onde eu consigo digerir os acontecimentos e refletir sobre a vida. Desde a partida do Sr. T, as minhas viagens tornaram-se momentos em que eu conseguia pensar livremente em tudo o que estava acontecendo, sem ser um autômato ou uma atriz que disfarça o sofrimento. Sozinha na estrada, percorrendo o mesmo trajeto de sempre, eu conseguia encarar de frente a minha angústia e chorar tudo o que fosse preciso. Para quem não gosta de dirigir ou tem medo da estrada (lugar de perigos e do desconhecido), a viagem pode ser uma prisão. Na minha situação, a estrada é sinônimo de liberdade, um caminho para compreender o que ficou para trás e pensar em novos percursos para o futuro. A trilha sonora é essencial, como não chorar ouvindo Passive, do Perfect Circle? Wake up and face me/ Don't play dead/ Cause maybe someday/ I will walk away/And say you disappoint me/ Maybe you're better off this way... (Acorde e me enfrente/ não se finja de morto/ porque talvez algum dia/ eu irei embora/ e direi você me decepcionou/ talvez seja melhor você distante desse jeito...). Ou então ouvir Enigma cantando Why: I was childish and unfair/ To you, my only friend/ I regret/ But now it's too late/ I can't show you any more/ The things I've learned from you/ Cause life just took you away/ I'm asking why /Nobody gives an answer. (Eu era infantil e injusto com você/ Meu único amigo / Eu me arrependo/ Mas agora é muito tarde/Eu não posso mais te mostrar/ As coisas que eu aprendi com você/ Porque a vida te levou embora/Estou perguntando por quê / Ninguém me dá uma resposta). Ouvindo as minhas músicas favoritas e olhando a paisagem na estrada, as minhas viagens se tornam um momento mágico de digerir o meu sofrimento e me tornar mais inteira. São também os únicos momentos da minha vida em que eu permito sentir a presença do Sr. T bem perto de mim.
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