Uma grande amiga de infância se separou do marido e nos meses seguintes ela sempre se queixava da solidão. Estar sozinha era o grande problema da separação e eu não entendia como ela podia se sentir tão sozinha com três filhos dentro de casa. Depois de algum tempo ela encontrou um novo amor e entendi que a solidão para ela era não ter com quem dividir as pequenas coisas do cotidiano. Eu não tenho problemas em fazer as coisas sozinhas, sim, às vezes cansa, mas não tenho uma natureza gregária. Gosto da solidão, sempre busco ter um espaço para refletir e meditar. Assim, não sinto falta do Sr. T por me sentir sozinha, pelo contrário. Resolvo as tarefas do meu cotidiano muito melhor sozinha do que acompanhada, antes um ficava esperando o outro resolver as pequenas coisas ou então encontrávamos algo melhor para fazer do que pintar as paredes ou trocar as lâmpadas. Agora não, as questões domésticas estão bem encaminhadas e justamente por ter consciência que não tenho problemas com a solidão ou com o gerenciamento da casa, é que me dou conta da imensidão de sua falta. Semana passada eu voltei para casa mais tarde do que o habitual e foi impossível não lembrar do nosso código. Toda vez que eu saía mais tarde, eu telefonava para o Sr. T e avisava que estava saindo naquele momento. Ele sempre respondia: - Venha com calma querida, estou te esperando. A frase era uma espécie de desdobramento de uma mais ampla que ele sempre me dizia quando ainda namorávamos: - Estou te esperando, vem morar mais eu... Me dei conta de que desde o dia em que nos conhecemos sempre estivemos viajando, curtas ou longas viagens, mas sempre indo ao encontro um do outro. O Sr. T não pode mais dizer que está me esperando e percebo que a minha solidão é irreparável porque não sinto falta de alguém me esperando (tenho várias pessoas me esperando em casa), eu sinto falta da generosidade da espera dele e tudo o que ela representava.
Beatriz, achei tão lindo esse blog. Você tem razão, escrever registra lembranças e afasta fantasmas. Tenho vivido momentos tão indizíveis de sofrimento e tenho também me dedicado à escrita da minha vida. Foucault diz que a escrita é uma das formas poderosas do cuidado de si, e é mesmo. Beijos e saudades
ResponderExcluirQuerida Alásia,
ResponderExcluirQuando me lembro de nossa vida despreocupada e leve, não posso deixar de pensar em como o destino nos prega peças. Vamos enfrentando os percalços como seres de luz e com muita fibra, mas a tristeza sempre permeia o nosso coração. Espero que você esteja bem, me ligue quando puder. Vai ser muito bom fofocar um pouquinho...
Beijos,