Depois de alguns anos morando em outra região, você já consegue ter uma ideia do seu nível de adaptação aos costumes locais se consegue vivenciar as festas como as outras pessoas. No meu caso, a minha adaptação é resistente e eu continuo assistindo ao espetáculo das festas juninas como uma estrangeira. Não consigo desejar "bom São João", não compro roupa nova para a data e se marcarem trabalho para o dia 24, não vou estranhar nem um pouco. Por outro lado, continuo achando o fim do mundo que as escolas tenham aula normalmente na quarta, quinta e sexta depois do carnaval! Hoje não pude deixar de lembrar do primeiro São João que passei aqui no nordeste com o Sr. T. Nós resolvemos viajar para o interior porque eu queria muito conhecer o vale dos dinossauros, em Souza. Ele conseguiu um pacote no Hotel Brejo das Freiras que fica em uma cidade próxima e fomos explorar o interior da Paraíba. A primeira coisa que me deixou chocada foi o calor que faz no interior, mesmo em pleno inverno. A paisagem muda rapidamente quando atravessamos o agreste e nos aproximamos do sertão nordestino. Enquanto o litoral é bastante semelhante aos outros Estados do sul do país, o interior apresenta uma paisagem tão diferente que é quase alienígena. Vegetação rasteira, seca, retorcida, os inselbergs imponentes e um sol de arrancar o couro. Fizemos uma viagem tranquila, mas acabamos nos atrasando e anoiteceu enquanto ainda estávamos na estrada. Eu comentei com Sr. T que só nós estávamos indo em direção ao interior, todos os carros cruzavam por nós em direção contrária. É sério, não tinha um carro na nossa frente ou atrás de nós, todo o movimento era na pista contrária! Achei estranho e comentei em voz alta o que eu estava pensando e ele respondeu: - Bom, pelo menos as pessoas estão vindo de algum lugar! O celular do Sr. T tocou e era o pessoal do hotel querendo saber se íamos demorar a chegar. Eu nunca soube de um hotel que ligasse para os seus prováveis hóspedes para saber em que lugar da estrada eles estavam... Pois eles ligaram várias vezes e ríamos feito loucos dentro do carro só de pensar que o hotel devia ser tão bom que nós éramos os únicos hóspedes deles! Quando chegamos próximo ao local, ficamos perdidos e o pessoal do hotel nem pestanejou: mandaram uma moça nos encontrar no meio do caminho e apontar a direção correta. Sim, eu nunca ouvi falar de um hotel... Quando nos aproximamos do cruzamento indicado pelo pessoal do hotel, vimos a tal moça sozinha na estrada, no meio do nada. - Como ela chegou até aqui? perguntei perplexa. Nós pensamos que ela voltaria conosco no carro, mas ela se recusou, indicou o caminho e disse que ficaria por ali. O Sr. T preocupado ainda insistiu, mas ela nem deu bola. Fomos na direção indicada pela moça preocupados e quando olhamos para trás, ela tinha desaparecido! Bom, a esta altura nós já tínhamos certeza absoluta de que estávamos indo em direção ao hotel fantasma, mas como o pacote já estava pago e a grana era curta, resolvemos encarar a vibe do filme "O Iluminado". Chegamos ao hotel (que antes era um convento), fomos muito bem tratados pelos funcionários cuja média de idade era 89 anos e passamos um fim de semana tranquilo com os nossos fantasminhas camaradas. Pelo menos não tentaram invadir o nosso quarto (que parecia mesmo um desconfortável quarto de freira) e nem devoraram os nossos cérebros. Foi uma viagem feliz como muitas outras que fizemos pelo interior e pretendíamos fazer muitas outras com D. Maricota. Ela hoje é louca por dinossauros e já pensei em viajar com ela até Souza. Pode ser que eu consiga fazer isso daqui a alguns anos, mas por enquanto, vou continuar lembrando daquela viagem como algo muito especial que não pode ser revivido, principalmente, pelo prazer enorme que era viajar com o Sr. T!
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