O texto a seguir é da minha querida Luciana, uma linda que é a borboleta nos olhos do título desta postagem e uma feiticeira das letras embaralhadas, organizadas, sequenciadas... Precisei reproduzir aqui porque as palavras do texto estavam gritando dentro da minha cabeça, gritos tão altos e agudos que eu precisava colocar para fora. Percebi a verdadeira dimensão da delicadeza do amor quando indiquei o texto para uma pessoa querida e recebi a seguinte resposta: - Você é Eu e eu sou Tu!
Eu, Personagem
Eu sou em labirintos. Escavo percursos pra me perder de mim. Planejo fugas e marco paredes com indicações de futuros que não percorrerei. Monstro encarcerado, sei minhas sombras. Sou besta e herói, fio e espera. Morro. Morro todas e tantas vezes: espada no peito, abandonada na ilha, caindo do penhasco. E nunca. Permaneço no oco de mim, desfiladeiros de histórias que se fazem em angústia. Sempre, sempre, sempre a solidão de uma cabeça cindida do corpo. O desejo de saber em desejos do outro e só encontrar os caminhos de volta. Esperar a oferenda de amores que morrem em minha mão, um após o outro. Morrem todos tão jovens e eu nunca sei o que poderiam ser. Lá fora, eu espero, o fio na minha mão indica o caminho da desilusão: quando voltar do espelho, verei a gratidão fazer morrer o que prometia ser eterno. Quando todas as histórias forem esquecidas, saberei: eu sou em labirintos.
Tu, Personagem
Quero. Quero que meus dedos sejam pincel e escrevam no teu corpo as letras do meu desejo. Quero fazer, da saliva, tinta, desenhando os indecifráveis signos da fome no ventre. Quero as narrativas sem sentido e as palavras cantadas como gemido na tua boca. Quero fazer do teu corpo mata-borrão do prazer que me sei dar. Quero deitar a cabeça no teu colo como se fosses livro e sugar-te como se ler fosse em quente sabor na língua. Quero as histórias do prazer em tatuagens passageiras pra começar a reinventar-nos logo a seguir do gozo. Quero esquecer os imperativos, a primeira pessoa, o verbo querer e deixar-me, pele, papel, pincel e letra, tudo eu, tudo teu. Até que, de novo, seja eu a escrever: quero.
Nenhum comentário:
Postar um comentário