Eu passei o ano passado inteirinho trabalhando os finais de semana, estudando para o concurso e terminando a tese de doutorado. Quem cozinhava grandes pratos nos finais de semana era o Sr. T e nós dois tínhamos uma história especial com a arte de cozinhar. Em nossos planos para o futuro estava um restaurante na praia de Pipa, no qual só iríamos cozinhar o que nos desse na telha (os clientes teriam que se adaptar, oras!). Ele fazia uma feijoada maravilhosa sempre preparada na véspera, já tarde da noite, e o cheiro se espalhava pelos corredores do prédio deixando os vizinhos com água na boca. Eu sempre implicava dizendo que ele contratava uma velha cozinheira para temperar o feijão porque era a melhor feijoada que eu já tinha provado na vida. Assim que voltou a trabalhar, o Sr. T fez planos para cozinhar grandes pratos nos finais de semana, aplicando toda a sua imaginação fértil nos princípios da cozinha. Com um pouco mais de sofisticação e acessórios chiques, ele seria quase um gourmet! O último prato que ele cozinhou foi uma carne de sol assada ao vinho com arroz de leite e macaxeira cozida com manteiga. Foi um dos melhores pratos que ele já fez e a prova disso foi que uma amiga da minha filha (que almoçou conosco naquele dia) contou em casa os detalhes do almoço empolgada. No dia seguinte, encontramos o pai dela na padaria e ele fez questão de perguntar a receita do nosso almoço, mesmo tendo me conhecido naquela hora. Hoje fiz uma almoço especial com uma carne que ele tinha comprado e guardado no freezer para preparar um assado especial. O almoço ficou maravilhoso e todas nós lembramos dos almoços do Sr. T. O fato é que a ausência de alguém é muito mais do que um conceito abstrato, é viver as pequenas alegrias do cotidiano sem a presença do outro.
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