Não posso ser considerada uma pessoa medrosa, pelo contrário, os desafios da vida sempre me exigiram envergar, mas sem quebrar. Nos últimos quatro anos trabalhei em uma cidade distante da minha casa, o que me fazia enfrentar sozinha uma viagem de duas horas na estrada. A volta era quase sempre depois das 20 horas e eu não fazia isso por falta de juízo, era mesmo uma necessidade. O trabalho me exigiu muitas viagens, de avião, de carro, de ônibus, para lugares simples e complicados. Mesmo assim, continuei enfrentando os desafios com tranquilidade. O curioso é que mesmo mudando de emprego, de cidade ou de função, os desafios eram sempre os mesmos, como um carma que precisava ser superado. As exigências da sala de aula sempre foram um alento na minha vida, eu simplesmente adoro estar com os meus alunos, faço isso desde que eu tinha seis anos de idade (meu irmão que o diga, coitado!). Exatamente por isso tudo que estou contando é que não me reconheci no começo deste semestre. No primeiro dia da minha volta ao trabalho peguei uma chuva torrencial, que fez a cidade inundar. Enquanto a água subia do lado de fora do carro, eu entrei em pânico. Só conseguia pensar no que eu faria se o carro quebrasse. Para quem eu iria ligar? Quem iria me socorrer? Entrei na minha sala aos prantos, desmoronando em uma crise de ansiedade sem fim. Na semana seguinte, minha primeira aula. Todos os semestres quando chega ao final da primeira aula, os alunos me perguntam de onde eu sou por causa do sotaque e eu sempre contava a mesma história: eu vim morar no nordeste porque me apaixonei por um paraibano, que era uma história de amor, blá,blá... As alunas adoravam a história, a empatia era imediata e sempre era muito divertido. Agora, foi a primeira vez que respondi secamente ao ouvir a pergunta de sempre: - Eu vim do Rio. O programa da disciplina está na copiadora do térreo. Não fui grosseira, é claro, mas fui seca e cortei o assunto para não desmoronar. Mesmo assim, saí da sala gelada, com as mãos molhadas e o corpo tremendo. Um medo enorme de não ser a mesma pessoa, de não conseguir ser generosa e boa com as pessoas novamente. Tem horas que a dor é tão aguda que você quer gritar com as pessoas que reclamam das coisas banais, como o atraso de alguém ou a falta de um aviso na porta. Felizmente, a ansiedade diminuiu e tenho conseguido ser quase a mesma professora com os meus alunos. Talvez com um pouco menos de brilho e entusiasmo. Envergando novamente, sem quebrar...
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