sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Sobre política

A esta altura do campeonato, na véspera da eleição, as discussões já estariam pegando fogo aqui em casa. O Sr. T amava a política (apesar da política não gostar tanto assim dele) e já tinha exercido alguns cargos no legislativo e no executivo pelo Partido dos Trabalhadores. Ah, o PT... Além de acreditar na política enquanto exercício da democracia, ele era completamente apaixonado pelo PT. Ele tinha fotos ao lado de Lula (provavelmente do período jurássico, eu acho), com Cristovam Buarque, José Dirceu e outros tantos. Eu sempre implicava, e fulano, você conhece fulano? E Beltrano, se você o encontrar, ele te cumprimenta? Ele sempre modesto dizia, talvez, provavelmente, não tenho certeza, mas que ele me conhece, conhece! É claro que eu sempre duvidava, até que um dia, caminhando na praia, um senhor parou para falar com ele de forma bem camarada. Era o Senador C. e fiquei espantada com a cordialidade do sujeito, que sequer pertencia aos quadros do PT, e sim ao partido adversário! Depois desse dia, parei de duvidar do Sr. T... Eu morria de rir com as histórias que ele contava sobre as brigas nas reuniões do partido. Segundo ele, quando um grupo percebia que ia perder uma votação importante, começava o quebra-quebra para criar um tumulto infernal e suspender a reunião. Aliás, as reuniões eram um capítulo à parte, existia a reunião para falar sobre a reunião que tinha acontecido, a reunião para falar da reunião que analisou a reunião principal e assim sucessivamente. Mulheres ciumentas não devem se relacionar com petistas, eles não tem hora para invadir a sua casa e estender uma conversa chatérrima até a madrugada. Quando eu estava indignada com alguma aliança espúria, ele filosofava: Em política, a roda grande passa dentro da roda pequena... Eu esbravejava: Como assim? Quer dizer que vale tudo? E ele respondia elegante e romântico: Política é a arte de aproximar os inimigos. Se são amigos, não precisariam da política, certo? Aliás, é preciso registrar que o Sr. T previu a aliança maluca do PSB com o PSDB aqui no Estado com bastante antecedência, sempre dizendo que não iria funcionar (no presente momento, o candidato da estranha aliança deve perder logo no primeiro turno). Com a política na pauta do dia, passo os dias olhando para as paredes e sentindo uma falta imensa do meu interlocutor. Quando você sente falta até das discussões, está bem perto de começar a questionar a sua própria sanidade...

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