Alguns meses depois de nos conhecermos, o Sr. T veio me visitar no Rio de Janeiro. Eu queria muito que ele conhecesse os lugares e os passeios que eu amava, como flanear no centro do Rio, andar nas barcas, ir ao Centro Cultural Banco do Brasil, enfim, as coisas que só quem mora no Rio consegue entender. O primeiro choque cultural foi a chegada ao aeroporto, já que o Galeão é um mundo. Como eu não sabia por qual companhia aérea ele tinha viajado, perguntei ao celular: - Onde você está? Ele respondeu surpreso: - No desembarque, oras! Eu insisti: - Mas em qual desembarque? Em qual terminal você está? A resposta: - Não faço a menor ideia... Se vocês conhecessem o aeroporto de João Pessoa, entenderiam a confusão do Sr.T. O aeroporto (que foi reformado recentemente) parecia uma rodoviária, era todo aberto com apenas uma sala de embarque e outra de desembarque. Dava para ver os passageiros se acomodando dentro do avião e quando você se aproximava do aeroporto, conseguia saber se o voo já tinha aterrisado ou não, porque era possível visualizar todas as aeronoves no pátio (não mudou muita coisa, mas agora temos granito e vidros em tons de verde para embelezar o ambiente...). Vencido o primeiro round, levei o Sr. T para conhecer o Rio de Janeiro, principalmente o centro do Rio. Todos os flanelinhas, malandros e figuras pouco recomendáveis das ruas cumprimentavam o Sr. T, de forma ostensiva ou discreta. O visual dele era uma espécie de salvo-conduto por aqui... Eu o levei para almoçar no meu restaurante favorito, um lugar especializado em saladas na rua da Assembleia, quase em frente ao Lidador. Segundo o Sr. T, ele ficou encantado com a variedade de saladas, porque se o buffet de verduras era bom assim, imagine a parte de carnes! É claro que ao chegar na parte das carnes o máximo que ele conseguiu encontrar foi uma torta de frango ou filé de frango grelhado. Ele dizia que tinha sido a folha de alface mais cara que ele comeu na vida! Mas o ponto alto do nosso passeio foi a saída do restaurante, na hora de pagar a conta no caixa. O gerente olhou para o Sr. T, abriu um sorrisão e disse: - Estou te reconhecendo! É uma honra você por aqui! Todo mundo que estava na fila olhou para a gente e muito sem graça o Sr. T disse: - Você deve estar me confundindo com alguém... E o gerente insistiu: - Nada disso, eu sou muito bom fisionomista. É você mesmo! Eu sei quem você é! Já desistindo, o Sr. T respondeu: - Tá certo! Diz aí, quem sou eu? E o gerente radiante: - O tocador de sanfona do grupo que tocou na nossa festa de final de ano! Eu quase tive um troço de tanto rir... Mais tarde, já em casa, o Sr. T me pergunta: - Mas tinha que ser tocador de sanfona? Deve estar escrito na minha testa que sou nordestino! Por que ele não me confundiu com um saxofonista ou com um percusionista? E olha que isso foi só o começo da nossa aventura a dois...
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