domingo, 18 de março de 2012

Livros

Eu tenho uma relação muito especial com livros, sempre tive um espaço especial na minha casa para eles, gosto de reler os meus preferidos infinitas vezes e sofro quando eles estão tão velhinhos que não aguentam sequer uma folheada. Entretanto, não sou ciumenta com eles, gosto de emprestar, acho muito importante que eles circulem. O Sr. T tinha vários livros e eu incorporei os títulos mais generalistas na minha estante, mas o que fazer com os livros específicos sobre teatro? No começo do ano passado, prometi ao meu colega de departamento (que é professor de Arte e Educação) que daria os livros do Sr. T para ele. Ele ficou honrado pois conhecia o Sr. T e assim como eu, adora livros. Treze meses depois, quem disse que eu consegui me desfazer dos livros? Eles continuavam lá no quartinho, encaixotados, esperando que eu tivesse coragem de me desfazer deles. Toda vez que eu encontrava com o Professor M. nos corredores da Universidade, ele me perguntava: - E os meus livros?Você desistiu de dar os livros para mim? Como explicar que eu sou uma covarde, uma ratinha inútil que não consegue elaborar algo tão simples como me desfazer de livros? Na sexta-feira passada eu não aguentei mais: sentei no chão do quartinho, conferi os livros um por um para levá-los para a Universidade. Cada vez que eu pegava em cada livro, lia os títulos e encontrava algum papel ou anotação dentro deles, meu coração batia tão forte e pesado que parecia que eu estava morrendo por dentro. Terminei de organizar a caixa de livros aos prantos e eu só conseguia pensar que o tempo não cura absolutamente nada! Ele apenas nos entorpece, nos faz esquecer, embota as nossas memórias para que a dor da perda fique em estado latente. Basta acontecer alguma coisa que acione as memórias relacionadas com a perda para que a dor apareça novamente. Forte, poderosa, devastadora... Quando isso acontece, sempre me sinto enganada pelas pessoas que dizem que a dor passa e que tudo vai acabar bem.Bom, mas como dizem por aí: o que não mata, fortalece!

segunda-feira, 5 de março de 2012

São apenas datas...

Eu não ligo para datas, não costumo me importar com aniversários e outras datas comemorativas. Quero dizer, não me importo além do normal, não sou do tipo que sofre se as pessoas não lembram ou não me cumprimentam. No momento atual, as datas possuem um sentido diferente para mim. São as datas que me conectam ao meu passado, revelam as minhas lembranças e ativam sensações que estavam perdidas. Hoje seria o aniversário do Sr. T e, como me lembrou o Facebook, ele faria 52 anos. Fui à praia sozinha para caminhar e dar um mergulho para equilibrar as energias. O mar estava estranhamente tranquilo, transparente e sem algas ou ondas. Consegui boiar por vários minutos enquanto eu olhava para o céu e sentia a brisa quente. Lembrei dos momentos em que estivemos juntos naquela mesma praia, fazendo exatamente isso: deixando o corpo flutuar no mar enquanto comentávamos que não existia nada entre nós e a África além daquele mar enorme. Chorei tanto dentro da água que pensei que nunca mais ia conseguir parar. Não chorei apenas por causa da minha perda, mas por todas as perdas que tenho passado ao longo da vida. Talvez a maior delas seja quando você acredita que o amor pode ser enorme, intenso, um reencontro de almas, um amor que cura, que pode mudar as pessoas e durar para sempre. Só que não...