quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Antes de tudo, salve a si mesmo!

Em uma nova relação, o ponto de partida deveria ser uma reflexão profunda sobre o que deu errado no relacionamento anterior como um processo de amadurecimento que ajudaria muito a não repetir os mesmos erros e chegar aos mesmos resultados. Claro que as pessoas são diferentes, as relações são construídas em outras bases e sempre encontraremos novos erros para cometer. Entretanto, muita gente insiste nos mesmos erros e repete a sua própria tragédia inúmeras vezes sem sequer perceber que o problema não está no(s) outro(s), mas na insistência infame em errar indefinidamente. As pessoas fazem isso de diversas formas, me lembro de ter percebido que eu imputava ao Sr. T problemas que não eram do nosso relacionamento durante uma discussão, na qual eu listei uma série de atitudes dele que me magoavam pontuadas com a palavra "sempre" e ele respondeu perplexo: - "Mas eu nunca fiz isso, essas coisas nunca aconteceram com nós dois"... Naquele momento eu percebi o quanto subestimei os meus traumas e a força que o nosso inconsciente tem em várias situações da vida. Algumas pessoas iniciam um novo relacionamento de forma tóxica, com um representando o papel de vítima do ex e o outro representando o papel de elemento compreensivo e apoiador. O(a) ex tem todos os defeitos do mundo enquanto a "vítima" tem apenas qualidades ou os defeitos são, invariavelmente, autoelogios disfarçados: bobo demais, compreensivo demais, certinho demais, omisso demais, comprometido demais... O novo casal se une para marretar o personagem maléfico criado, propiciando uma espécie de alívio emocional ao criticar, sempre de forma cáustica, um dos personagens do relacionamento anterior. Usei "personagem" de propósito, já que é impossível saber o que acontece nas engrenagens de um relacionamento. O que uma das partes conta é sempre uma perspectiva distorcida dos fatos e quase nunca corresponde ao que realmente acontecia. O estranho é que esse novo relacionamento depende muito da figura antagônica (real ou imaginária) para se alimentar e sobreviver. Com o tempo, a situação perde a força por vários motivos: a figura central a ser atacada sai do radar dos envolvidos, dificultando a construção de novas críticas, a "vítima" se fortalece e deixa de necessitar do apoio no formato de ataques ao ex, uma das partes acaba repetindo a mesma situação tão demonizada na figura do outro no começo da relação (indiferença, ciúmes, traição, descaso, descontrole financeiro, agressividade etc). O fato é que quando isso acontece (pode demorar 5, 10, 15 anos, mas sempre acontece), a estrutura do relacionamento desaba e tudo que estava cuidadosamente escondido no subterrâneo psicanalítico, vem à tona. As pessoas sempre se revelam, não importa por quanto tempo possam se esconder. Portanto, o mais importante, é salvar a si mesmo primeiro. É preciso digerir as rupturas, compreender o processo de desconstrução da relação de forma madura e equilibrada, embora nunca não dolorida... O sofrimento nesta fase tem pouca relação com o outro, é o confronto com nós mesmos que provoca a dor. Não se pode esperar ser salvo por ninguém, porque ao outro cabe apenas nos apoiar em nossa jornada. A "salvação" é um processo pessoal, interno e intransferível porque depende apenas de uma coisa: ter coragem para conhecer a si mesmo!