sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Fim de ano

Pode parecer estranho, mas não penso que 2010 só me trará lembranças ruins. Coisas boas aconteceram neste ano e a partida do Sr. T não pode ser marcada temporalmente por uma data. O impacto de sua partida vai reverberar o resto da minha vida, então seria injusto atribuir toda a responsabilidade ao ano de 2010. O Sr. T fez duas conquistas importantes que provocaram uma transformação profunda nele. Ele passou em primeiro lugar no concurso para Diretor de Artes Cênicas da UFPB com nota quase máxima (apesar de depois ter sido escandalosamente roubado) e também foi o primeiro colocado no concurso para professor de Artes do CEFET. O sucesso nas duas empreitadas fez com que o Sr. T decidisse voltar para a sua área de formação. Nunca vou esquecer do dia que saiu o resultado da primeira etapa da UFPB. Meu irmão viu o resultado primeiro e quando eu contei ao Sr. T, ele chorou copiosamente dizendo: - Eu sou um artista, sei que sou um bom artista! Ele teve a certeza de que estava no caminho certo. Enquanto eu estou escrevendo aqui, D.Maricota está brincando na varanda e inventando músicas com letras complicadas e extensas. Ele tenta rimar o final das frases, mistura vários ritmos e parece muito orgulhosa do resultado. Impossível não lembrar da cantoria do Sr. T e fico pensando o quanto ela não absorveu das intermináveis horas em que o pai cantou para ela. O repertório era extenso, variava de MPB até a música do Tatu no buraco. Quando ele pensava que ela já estava dormindo e interrompia a cantoria, ela invariavelmente abria os olhos e pedia: - Canta a do sol amarelo! E ele retomava a cantoria com sua voz grave. Senti muito por não ter gravado as suas cantorias e vou pedir ao nosso amigo Werter para conseguir as gravações das entrevistas que o Sr.T nas redes de TV locais. Eu quero muito que D. Maricota tenha as lembranças guardadas para sempre. Como ela mesma diz: não quero esquecer, mamãe!

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Superando o Natal

Bom, conseguimos passar pelo Natal razoavelmente incólumes. Tivemos a tradicional ida na casa da avó na véspera, um pequeno almoço no dia 25 e o mais importante para D.Maricota, os presentes de Papai Noel! Depois de semanas de expectativa, ela abriu os presentes e ficou realmente surpresa por Papai Noel saber exatamente o que ela queria. Como sempre faço todos os anos, arrumei a sala com um cuidado especial e a novidade foi o enquadramento dos trabalhos do Sr. T que se transformaram em lindos quadros na parede da sala. Ao saber que eu estava levando os trabalhos para colocar moldura, D. Maricota perguntou: - Você vai colocar os trabalhos do papai na parede para não esquecer dele, mamãe? Porque eu também não quero esquecer... Como se fosse possível esquecer o Sr. T, com quadros ou sem quadros, com ou sem Natal!

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

No Rio de Janeiro

Estivemos fora nos últimos dias, fomos buscar um pouco de conforto nas lembranças e nas amizades antigas. Dona Maricota se divertiu muito e aproveitou a viagem ao máximo, se comportando muito bem em todas as situações. Quando decidi fazer essa viagem, pensei em respirar outros ares e distrair Maricotinha com muitos lugares para visitar e coisas para ver. Não era exatamente uma fuga, mas a busca de um tempo para nós em um ambiente sem lembranças. Ela esperou pela viagem ansiosa e dramática com uma vontade tão grande de partir que não me pareceu a ansiedade comum das crianças nesta idade. Por isso mesmo, aproveitou ao máximo tudo o que podia ver, andou tanto que fez bolhas nos pés e não teve uma só coisa que não despertasse a sua curiosidade com inúmeras perguntas. Confesso que fiquei cansada, a quantidade de perguntas e reflexões da minha caçula derrubariam até Aristóteles! Em alguns momentos, ela mesmo perguntava e respondia, provavelmente cansada da lentidão do meu pensamento. Mas nenhuma fuga é perfeita e não é possível deixar a memória para trás: ela não deixou de chorar em alguns momentos com saudade do pai. Provavelmente pensava no que ele faria se estivesse ali conosco, se a carregaria no colo ou compraria algumas bugigangas para ela. Mesmo assim, tudo é válido porque se é certo que não podemos evitar o nosso próprio destino, tampouco podemos fugir do passado.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

As aventuras de Flapjack e Capitão Falange

O título deste post é sobre um desenho animado com uma história curiosa: um menino de rua (Flapjack) vive em Porto Tempestade dentro de uma baleia chamada Bolha, com seu amigo e mentor Capitão Falange. O sonho do menino é viver grandes aventuras como marinheiro e o desenho retrata o lado, digamos, decadente das grandes navegações. A partir de amanhã eu serei o Capitão Falange e Mariazinha será o Flapjack, juntas vamos em busca de muitas aventuras. Mesmo que a mais emocionante seja ver a decoração da árvore de Natal da Lagoa!

domingo, 5 de dezembro de 2010

Shrek e Fiona

Desde o começo do nosso relacionamento, o Sr. T sempre se comparava ao ogro Shrek e afirmava que eu era a sua princesa Fiona. Ele se achava desajeitado, bruto, feio, tosco e grosseirão. Inadequado seria a palavra mais correta e ela se aplicava aos dois. Afinal, o Sr. T pertencia ao movimento negro e eu sou uma branquela loira aguada. O Sr. T era inadequado para mim, tanto quanto eu era para ele e isso só comprova o quanto vivemos de estereótipos e ideias pré-concebidas. Ele era um militante petista, um homem envolvido com as bases e toda a sua verve estava direcionada para a luta de um bem comum. Parece muito poético tal e qual um poema de Maiakóvski, mas o Sr. T pagou um preço alto por pensar e agir assim. Tenho a impressão que eu fui uma espécie de interlúdio na vida do Sr.T, uma nota fora do compasso da orquestra e que serviu apenas para que ele fosse feliz por um instante. Ele sempre dizia que uma obra para ser arte não podia ter função, ela tinha que rigorosamente não servir para nada. Penso que eu também não tinha função, não fiz do Sr. T um grande homem, não o ajudei a construir nada, não fui o seu esteio ou a sua base. Eu apenas fiz o Sr. T feliz por um tempo. Pode parecer pouco para algumas pessoas, mas considero suficientemente bom para mim.

sábado, 4 de dezembro de 2010

Luzes de Natal

Hoje foi o dia de colocar as luzes de Natal na varanda e como essa era uma tarefa do Sr. T, fui assumir as suas atribuições com determinação e coragem (apesar do medo de levar um choque, eu tenho horror a choque elétrico!). Obviamente, Mariazinha não deixou de lembrar um só minuto do momento que vivenciava com o pai e entre a alegria de ver a nova iluminação e a angústia de suas lembranças, ia recitando as orientações: papai fazia assim, papai colocava assado, lembra de quando papai escorregou e quebrou as luzinhas, mamãe? E por aí foi... Depois de muitas respostas evasivas, humruns e ahrans, concluímos a tarefa sem nenhum susto maior. Amanhã preciso providenciar uma nova extensão, verificar se os fios resistiram ao vento constante, mas o resultado geral foi positivo. Bom, nós sabíamos que seria uma época difícil e lidar com o "espírito natalino" não vai ser fácil, mas já temos mais uma etapa vencida.