segunda-feira, 30 de julho de 2012

Notas sobre um webromance: café da manhã colonial

A minha apresentação no evento estava marcada para às 10 horas. Como sempre, eu terminei de organizar os slides algumas horas antes (essa incrível segurança para falar sobre os temas que domino de trás para frente ainda vai me deixar na mão um dia...). Descemos apressados para tomar o tal café da manhã colonial oferecido pelo hotel. Entramos distraídos de mãos dadas no salão com piso de tábua corrida e cortinas de renda na janela. Várias pessoas ocupavam as mesas, todos conhecidos de outros trabalhos e instituições. Era possível ouvir o zumbido das conversas do lado de fora do salão, mas assim que nós entramos, as conversas cessaram. Todos interromperam o que estavam fazendo e nos olharam. Sabe aqueles três segundos de constrangimento que você não sabe muito bem a razão de ser objeto de interesse das pessoas? Pois é... Uma olhada rápida e me dei conta de que éramos o único casal hospedado no hotel que não dormiu a noite toda e, provavelmente, não deixou ninguém mais dormir... Caminhei em direção à mesa com o rosto pegando fogo enquanto as pessoas nos seguiam com o olhar. As conversas foram retomadas em um tom mais baixo, embora as pessoas continuassem a nos olhar com curiosidade. Algumas pessoas sorriam como se estivessem satisfeitas em confirmar a identidade secreta dos amantes destemperados... Como diz uma amiga querida: na terra da desesperança, as pessoas se incomodam muito com quem encontra um amor! E eu, toda linda com o meu vestido de linho chique e (muito) corretivo para as olheiras, só pensei em uma coisa: nunca mais eu me hospedo acompanhada no mesmo hotel que os meus colegas de trabalho! Fim.

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Notas sobre um webromance: três dias que mudam a sua vida...

Nada mais puro do que um coração desavisado... Quando se está desarmado, é impossível prever o que pode acontecer. Todos nós temos certezas na vida no que diz respeito aos relacionamentos, sabemos disso porque conhecemos a regra e não as exceções. Eu costumo dizer que depois dos 40 anos existe só um tipo de amor possível: o amor pantufa. É aquele amor fofo, meigo, repleto de afinidades, estabilidade, no qual um completa o outro a partir das lacunas de sua vida. Cada um de nós carrega muitos vazios dos relacionamentos passados que queremos preencher e um relacionamento na época mais madura da nossa vida pode ser perfeito para isso. Definitivamente, não esperamos encontrar na maturidade um tipo de amor visceral que nos coloca de cabeça para baixo e muda o rumo de nossas vidas. O tipo de amor que faz o nosso coração bater forte, quase saindo pela boca quando ouvimos a voz do outro. Que nos faz perder o sono e a fome. Que supera as limitações físicas que temos e nos permite extrapolar todos os sentidos em um jogo erótico sem fim. Ou que transforma o cheiro do outro em uma espécie de afrodisíaco que nos persegue por todos os lugares. Até mesmo um amor que produza uma sensação de posse absurda, daquelas de querer prender o seu objeto do desejo no porão, amarrado com cordas e fita silver tape! Durante três dias, eu e o Sr. L dormimos pouco mais do que uma hora e meia por noite, fizemos cinco refeições, falamos de tudo sobre as nossas vidas e voltamos para casa como se um caminhão carregado com três ogivas nucleares tivesse nos atropelado. Nada de amor pantufa, nada de equilíbrio, nada de suavidade... Parecia que toda a história de duas vidas tinha se reunido ali, naquele lugar e naquele momento. Qualquer escolha diferente de um caminho em comum significaria subverter a ordem natural das coisas. Apesar de todas as dúvidas, sentenças inacabadas e (muitas) pressões externas, eu só pensei uma coisa: quando se encontra um amor como esse, não se pode recusar a viver o que nos foi reservado.

domingo, 22 de julho de 2012

Notas sobre um webromance: Ouro Preto

Cheguei ao hotel no meio da tarde, junto com os meus colegas que também iam participar do evento. Eu sabia que o Sr. L já estava lá desde cedo, a ideia inicial era nos encontrarmos no fim da manhã, mas o meu voo atrasou. O tempo chuvoso e a neblina baixa desencadearam uma crise alérgica em mim. Meus olhos estavam inchados e eu mal conseguia respirar direito quando entrei no saguão do hotel. Nunca mais vou esquecer dos detalhes daquele hotel em estilo colonial, o silêncio dos ambientes, os sons abafados, a tábua corrida no chão, a decoração com cortinas de renda e peças do artesanato local. A recepcionista era uma moça jovem e muito simpática, enquanto eu preenchia o formulário do hotel ela me disse com um sorriso romântico no rosto: - Tem uma pessoa esperando por você ansiosamente desde cedo! Ele estava inquieto, aguardando a sua chegada. Achei graça da expressão no rosto dela, ela parecia encantada com a espera prolongada do meu querido... Vislumbrei a sombra de uma pessoa alta atrás de mim, terminei de preencher o bendito formulário com o rosto pegando fogo e olhei para trás. O Sr. L estava lá, olhando a minha nuca sabe-se lá por quanto tempo... Corri na direção dele e enfiei a minha cara no seu peito, curtindo aquele abraço de urso delicioso. Ele levantou o meu rosto e me beijou, um beijo quente, molhado que fez os meus joelhos tremerem e as pernas virarem mingau. - Ridícula! Pensei enquanto o meu cérebro duelava entre o gosto e as sensações daquele beijo e o resto de racionalidade que ainda me restava. É, eu sei, parece coisa de adolescente, mas eu queria ficar pequeninha para entrar dentro da blusa dele e não sair nunca mais. Eu tinha tanta coisa para perguntar, tanta coisa para dizer... Não fiz nem uma coisa, nem outra. Segurei na mão do Sr. L e caminhei em direção ao quarto. Não precisava de mais nada naquele momento.

sábado, 21 de julho de 2012

Notas sobre um webromance: primeiro encontro

O que se espera de um primeiro encontro? Normalmente, uma prospecção profunda do outro: em cada olhar, em cada gesto, em cada nuance do diálogo, sempre existirá uma análise implacável do outro. É no primeiro encontro que avaliamos se vai haver continuidade ou não da relação. Por isso mesmo, todo primeiro encontro é constrangedor, não sabemos onde colocar as mãos, caprichamos na roupa, somos todos ouvidos para a nossa companhia. Algumas pessoas repetem insistentemente "- É mesmo? Eu também", como se fosse um sinal de fomos-feitos-um-para-o-outro-já-podemos-casar. Não preciso nem dizer que a saia-justa é infinitamente maior nos encontros às cegas, que os americanos chamam de blind date. Entretanto, nada supera o medo (medão, pânico, paúra, ou qualquer outra expressão que o leitor preferir) de um encontro com alguém que você nunca viu pessoalmente, mas com quem já entrelaçou a alma. Não existe um padrão para o primeiro encontro, cada um construirá o seu próprio momento de um jeito diferente do outro. O Sérgio Freire, por exemplo, contou uma história linda em seu blog sobre o primeiro encontro com alguém que nunca tinha visto (e que hoje é a mãe de suas duas filhas). Eu adoro a história contada por ele, mas comigo foi diferente. Eu não esperava nada além do óbvio. Se eu fosse elaborar uma espécie de check list, seria mais ou menos assim: conversa agradável - ok, pessoa simpática - ok, afinidades em nível razoável - ok, sexo de qualidade - ok, amizade especial - ok... Só isso. Nada de querubins dançantes, borboletas coloridas, som de violinos ou fogos no céu. Eu tinha certeza de que encontraria apenas o óbvio. Não me entendam mal, não que o óbvio fosse ruim, mas seria apenas...o mesmo de sempre! Uma espécie de amor pantufa, aquele tipo de amor cálido, morno e confortável que nos serve na medida exata de nossos medos e decepções. No fundo, acho que eu desejava que fosse assim porque um amor pantufa não seria suficiente para revirar a minha alma e me tirar da minha imobilidade. Em algum canto insano da minha mente eu continuava a ter certeza de que nunca mais poderia viver uma história com alguém depois do Sr. T, embora o lado são insistisse que eu precisava seguir em frente. Caminhei em direção ao meu primeiro encontro certa de que não encontraria nada demais. Foi aí que eu errei feio...

#Update: Encontrei um vídeo bem fofinho sobre um casal que namorou durante anos e teve o seu primeiro encontro filmado por uma amiga. Como vocês podem ver, a situação é bem mais comum do que pensamos.

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Flynn Rider

Flynn Rider é o herói que "salva" Rapunzel da torre, em Enrolados. É também um ladrão, interesseiro, mentiroso, manipulador e cafajeste. Apesar da sua experiência e malandragem, nada do que ele faz tem influência sobre Rapunzel. Pelo contrário! Quem manobra a relação dos dois é ela, embora ele tente se aproveitar da inexperiência dela o tempo todo. Ele faz isso quando tenta convencê-la a voltar para a torre e não destruir a relação de confiança entre mãe e filha ou quando a leva ao "Patinho Fofo" para enfrentar os bandidos fedorentos e assustadores. Entretanto, ela sempre dá o troco, encontra uma saída e continua determinada a viver a sua aventura. Ela não desiste nem mesmo quando é manipulada pela mãe vilã (que afirma que Flynn Rider está apenas interessado na coroa e não em seus poucos atrativos). Na minha opinião, essa é a perspectiva mais cruel do filme: Rapunzel cresce ouvindo que não tem atrativos, que é desleixada, feia, frágil e incapaz de cuidar de si mesma. Ninguém acredita nela, nem a mãe vilã, nem Flynn Rider. Só ela acredita que pode mudar o seu próprio destino. Penso que o que mantém Rapunzel íntegra e acima de todas as ações perversas, é a sua generosidade e decisão de se doar sempre, independente das ações dos outros.Toda vez que alguém nos diz que o outro tem apenas interesse em nós e não sentimentos verdadeiros, nos sentimos um lixo. É como se fôssemos incapazes de inspirar amor em alguém, que tudo que temos é o dinheiro, posição ou algum tipo de barganha. Além de não ser capaz de despertar amor em alguém, a pessoa que está sendo usada é uma tapada (ou ingênua, que fofo!), incapaz de perceber que o outro não sente nada (porque a pessoa não merece!) e a engana descaradamente. A solução no filme é fazer com que Flynn Rider morra para salvar Rapunzel. Ao optar por morrer, ele expia a culpa de todas as suas ações negativas e torna-se, finalmente, um herói. Na vida real, ninguém coloca a própria vida em risco para salvar o outro. Então, só nos resta nos recolher em nós mesmos e escolher melhor as pessoas com as quais nos relacionamos.

domingo, 15 de julho de 2012

Crianças índigo?

A história da nossa vida está sempre se entrelaçando com a vida de outras pessoas. São pontos em comum, trajetórias, experiências, gostos etc. que nos aproximam dos outros, amenizando o sentimento de solidão. D. Maricota está muito próxima de um amigo da escola e os dois tem passado muito tempo juntos nas férias.Os dois são mesmo muito preocupados com outros e a imaginação corre solta nas brincadeiras mais simples entre eles. Semana passada eu estava procurando os meus óculos perdidos e os dois começaram a imaginar em quais lugares eu poderia encontrá-los (dentro de um bolo, na travessa de macarrão, no forno...) Como diz a avó do Sr. Dudu, são crianças mansas e meigas, um bom exemplo da geração índigo. Para reforçar a percepção da avó coruja, os dois travaram o seguinte diálogo enquanto lanchavam na mesa da sala:

- Eu não tenho pai, sabe? A minha mãe casou com o meu pai, mas depois que me teve, largou ele. Aí, eu não tenho pai. Disse o Sr. Dudu para D. Maricota.

- Eu tive pai, Dudu, ele morava aqui comigo, mas ele morreu. Então, eu também não tenho pai! Respondeu D. Maricota.

- É, nós dois não temos pai, né? A gente queria ter pai, mas não temos. Vamos brincar de desenhar agora?

- Vamos!

Sem sofrimento, sem angústia, sem divagação. Apenas a constatação do óbvio e a segurança de que mesmo em relação aos nossos piores medos, temos a certeza de que alguém vive a mesma situação. Simples assim!

sábado, 14 de julho de 2012

Notas sobre um webromance: o primeiro passo

Eu queria dizer que tive muitas dúvidas, que eu não sabia, que a vida me pegou de surpresa. Mas não é verdade. Eu sempre soube. Desde o primeiro instante, eu soube. Durante um certo tempo, existiu apenas a expectativa, curiosidade e vontade de ficar junto. O Sr. L sabia e me dizia o que sentia. Eu não. Sou econômica nos gestos e nas palavras. O que eu sinto só me diz respeito. Acho que é uma espécie de avareza em revelar os sentimentos, mas nas interações virtuais, é preciso que alguém dê o primeiro passo. O sentimento não pode ficar preso na garganta, contido nos gestos ou presente apenas nos olhares. Não existe a possibilidade de fazer uma leitura corporal, então, é necessário que o amor se revele. Mesmo sabendo disso, eu não poderia dizer nada porque não tinha clareza do que sentia. Eu queria a proteção da distância, a segurança das impossibilidades, as lacunas da alma. Mas nós não conduzimos a nossa vida independente dos outros (felizmente ou infelizmente?)... Apesar de estar presa nas minhas certezas, acorrentada nos meus medos e impossibilidades, tive que ler e encarar a revelação do Sr. L.

- Te amo muito. Eu precisava dizer isso a você. Fiquei travando por achar que você acharia cedo, mas é o que eu sinto. #prontofalei

Caploft! Louco, maníaco, pirado! Como ele pode dizer isso assim? Levantei, dei voltas pela sala, fechei o computador, abri de novo, dei gargalhadas, tremi, li e não acreditei. Mas ele continuou dizendo... Algumas semanas depois, eu perguntei se ele não ficava magoado porque eu nunca dizia a mesma coisa. Ele respondeu como se eu fosse acessível ao olhar dos outros, como se fosse fácil me ler como um mapa... Foi neste momento que eu soube o que sentia desde o começo.

- Você já me ama... só resiste a isso!

domingo, 8 de julho de 2012

Notas sobre um webromance: um certo capitão Rodrigo...

O tempo e o vento é um dos meus livros favoritos, especialmente a história de Rodrigo Cambará. Sempre tive a impressão de que as aventuras de Rodrigo eram apenas uma pano de fundo para contar a história do seu amor por Bibiana Terra. Na minha opinião, a grande ousadia de Veríssimo é construir um herói com tantos defeitos que parece quase impossível que ele possa nos fascinar tanto. Rodrigo não chega a ser um anti-herói porque apesar dos seus inúmeros defeitos, ele carrega as qualidades de um herói: é bravo, corajoso, destemido e morre lutando pelo que acredita. As suas virtudes não superam os seus defeitos, mas torcemos por ele porque nas suas fragilidades, se revela o humano. Rodrigo poderia ser qualquer um de nós. Quando eu conheci o Sr. L, foi impossível não lembrar de Rodrigo Cambará. Os extremos dos defeitos e virtudes, a intensidade diante da vida e a disposição de não viver muito, desde que tudo o que foi vivido valesse a pena, eram muito semelhantes. O Sr. L sempre foi rebelde, indomável, tosco, luminoso, confuso, forte, impulsivo, egocêntrico e intenso. Um verdadeiro tsunami de emoções conflitantes no qual as chances de sobrevivência pareciam mínimas. No histórico do Sr. L, constavam relacionamentos com mulheres cujo temperamento variava entre a neutralidade e a aniquilação. Qualquer coisa diferente disso, poderia ser o prenúncio do caos. Eu sempre busquei a perfeição nas pessoas. Se as pessoas não se enquadrassem dentro de determinados critérios (que valiam tantos para os outros quanto para mim), eu simplesmente não conseguia estabelecer uma relação mais estreita. Sempre fui dura e inflexível, com os outros e comigo. Não preciso dizer que isso me tornou uma pessoa bastante infeliz. O Sr. T me mostrou que as imperfeições são humanas e que amar somente o que é perfeito, não é sinal de integridade. A generosidade está em compreender e aceitar as imperfeições de todas as pessoas que fazem parte da nossa vida. É preciso relativizar as fraquezas do outro para expurgar os nossos próprios defeitos e superar as nossas limitações. Não foi um aprendizado fácil, mas foi libertador. Com o Sr. L, eu pude entender o que significa estar livre para amar alguém sem pré-requisitos, sem amarras e sem condições para o futuro. Ao abandonar as minhas condições prévias, eu pude olhar o que realmente importava: o amor imenso que cabia em um coração generoso.

sábado, 7 de julho de 2012

Notas sobre um webromance: função e forma

Frequentemente, nós mudamos a vida de outras pessoas. Um toque, uma palavra, uma ação, um exemplo, uma ligação... As pessoas são transformadas por nós da mesma forma que somos transformados por elas. Isso não significa que toda influência é positiva, ela pode acontecer tanto para o bem quanto para o mal. Obviamente, não podemos prever todas as consequências de nossas ações, mas quando agimos com intencionalidade em relação aos outros, precisamos ter clareza das consequências dos nossos atos. Em relação aos relacionamentos amorosos, isso significa que os nossos desejos momentâneos (que se modificam o tempo todo) não podem vir na frente do propósito de fazer bem ao outro. Nem sempre somos nós que vamos propiciar a felicidade, tranquilidade e equilíbrio para o nosso objeto de desejo. Usei a palavra desejo de propósito porque quando sentimos amor e não apenas desejo, a nossa preocupação com o outro é ampliada e deixamos de pensar apenas no que nos satisfaz para refletir sobre o que pode satisfazer aos dois. A mola que impulsiona o desejo nem sempre é acionada por coisas boas, muitos outros elementos podem disparar o gatilho: disputa, controle, ciúmes, atração, poder, dinheiro, carência, solidão... Intuitivamente, eu sempre analisei os meus relacionamentos considerando o nível de satisfação dos dois envolvidos, quando a balança pendia para um lado só, era hora de partir. Hoje, eu consigo ir além. Acredito mesmo que temos um propósito na vida dos outros e ele sempre tem que ser direcionado para o bem. É fundamental ter certeza se eu realmente posso aportar ao outro o que ele precisa, da mesma forma que o exercício inverso precisa ser feito. Quando se tem vinte e poucos anos, é possível testar e experimentar os diferentes níveis de aproximação disponíveis, mas quando já se viveu mais da metade do que se espera da vida, não existe mais tempo para errar e acertar. É tempo de apenas decidir.

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Nascer do Sol

Observar os filhos é uma arte e, no caso de D. Maricota, é quase uma ação de clarividência. Compreender todos os percursos emocionais que ela vem realizando nos últimos dois anos é mais do que uma questão de estar atenta. É, de fato, uma preocupação com o futuro dela. Não tenho mais a menor dúvida de que ela está com as lembranças esmaecidas e, às vezes, ela me pede para relembrar um fato, uma música ou uma situação. Algumas das decisões dela estão relacionadas com os flashes de memória que ela carrega como, por exemplo, não querer cortar o cabelo (eu e Sr. T discutíamos bastante por causa disso, ele queria um cabelo de sereia e eu queria algo mais prático e moderno) ou ver o sol nascer. Parece que acordar cedo para ver o sol surgir na praia, foi uma combinação dela com o pai que nunca se realizou. Volta e meia ela insiste que gostaria de fazer isso. Hoje ela acordou bem cedo, correu para a janela e quando eu perguntei o que ela estava fazendo, ela respondeu: - Eu não digo sempre que queria ver o sol nascer bem cedinho, mamãe? Depois disso, ela voltou para a cama e adormeceu quase imediatamente. Fique acordada um tempão, pensando... Afinal, qual teria sido o sonho de D. Maricota?

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Notas sobre um webromance: seis graus de separação

A teoria dos seis graus de separação afirma que todos nós estamos interligados através de seis laços de amizade. Você interage em várias listas de discussão com uma pessoa que mora na cidade x. Você mora na cidade y. Os dois estão distantes e nunca se encontraram. Vocês não tem nada em comum a não ser o trabalho. Ou gostar de Star Wars, Senhor dos Anéis, músicas e livros. Possuem opiniões semelhantes em vários aspectos. Interagem em um grupo mais restrito, com o mesmo perfil e as tiradas inteligentes com muitas gargalhadas são inevitáveis. Nenhum comentário que possa revelar alguma intimidade é feito. Um dia você percebe que o seu amigo virtual está desanimado, doente, triste e solitário. Acredita que chegou ao fim da linha e não espera mais nada da vida. Você tenta animá-lo e pede que os outros amigos virtuais também o apoiem. No caminho do apoio desinteressado e distante, surge alguma coisa entre os dois. Incompreensível, estranho e inesperado. Então você descobre que viveram na mesma cidade, moraram na mesma rua e tem vários conhecidos em comum. Estudaram na mesma escola, com intervalo de poucos anos e tiveram os mesmos professores. Descobre que conheceu várias namoradas dele e que estiveram juntos na mesma festa de ano novo. Mesmo assim, nunca se viram. Nunca se falaram. Entraram e saíram por portas semelhantes a vida toda, se roçando, se avistando, mas nunca se encontrando. Como é possível ter vivido tão perto um do outro sem nunca se encontrar? Qual foi o propósito do destino para os dois? Alguma coisa começa a se reconfigurar na sua cabeça e no seu coração. O passado e o presente se misturam em um turbilhão de imagens, fatos, locais e situações. Impossível não pensar no efeito borboleta... E se tivessem se encontrado? E se tivessem casado? E se os filhos fossem filhos dos dois? Se o passado é imutável, é possível mudar o futuro? Surge, então, aquela pergunta que pode mudar a sua vida: e se?

terça-feira, 3 de julho de 2012

Notas sobre um webromance

Este é um blog líquido. Sobre o amor líquido. Tanto no sentido pós-moderno de Zygmunt Bauman, quanto na quantidade de sentimentos doloridos que estão nas entrelinhas do texto. Antes que alguém se irrite e deixe nos comentários um "se atualiza, mulher!", eu vou dar um refresco. Vou contar um pouco sobre como é possível se reconstruir depois de estar partida em milhões de cacos espalhados por aí. Vida nova, cremosas! A vida segue e nem por isso é mais fácil. Sabe aquela história de substituir um amor por outro? É mentira! Cada amor é único, embora as pessoas sempre insistam em carregar as mazelas dos outros relacionamentos. Ninguém substitui ninguém, os compartimentos continuam lá, intocados, embora menos doloridos ou visíveis. Só que isso não é ruim. Os amores importantes devem ficar nos seus respectivos lugares dentro de nós e servir como fundação e amálgama para os amores seguintes. É um aprendizado que vamos construindo a cada relacionamento, a cada passo, sempre um dia de cada vez. Nada mais adequado para justificar a referência ao Bauman e ao mundo pós-moderno do que um webromance. Vou logo avisando: nas notas sobre um webromance, cabe tudo e mais um pouco! Amor, desencontros, sofrimento, diálogos inacreditáveis, amizade, desconfiança, casamento, destino, descobertas, piração, sexo... É leitura para quem enverga sem quebrar. Enjoy it!