terça-feira, 16 de julho de 2013

Discriminação: depende dos olhos de quem vê!

Já contei aqui no blog sobre o perfil aguerrido e militante do Sr. T. Ele se vestia e se comportava de acordo com os seus próprios princípios e podem acreditar: isso significava estar muito longe dos parâmetros conservadores da nossa sociedade. Certa vez, ele precisou fazer um pagamento no cartório que ficava dentro do fórum. Ele estava vestindo um daqueles bermudões grunges de sempre, com botas de escalada e camiseta de malha preta com alguma imagem/texto do tipo "free Mandela" ou "go home Yankees". Quando ele tentou entrar no cartório, foi barrado pelo funcionário que mostrou uma placa e disse que era proibido entrar no cartório com vestimenta inapropriada. Ah, senhores, o Sr. T deu a moléstia como dizem por aqui e fez um discurso inflamado, afirmando que a justiça é excludente, que as pessoas não podem ser tratadas assim e completou:

- Isso é uma discriminação! Vocês estão me discriminando!

O chefe da seção, provavelmente apavorado com a possibilidade do Sr. T estar se referindo à questão racial, levantou da mesa e disse bem alto:

- Ninguém aqui está discriminando o senhor! Nós não discriminamos ninguém!

- Estão sim! Eu estou sendo discriminado! Vocês estão impedindo a minha entrada por causa da minha aparência! Eu estou sendo discriminado! devolveu o Sr. T se referindo ao vestuário.

Naquela altura, o cartório inteiro estava em polvorosa com os funcionários nervosos, sem saber como aquilo iria terminar. O chefe continuou reforçando o seu discurso:

- Não é discriminação, o senhor não pode entrar por causa da sua roupa, mas nós não discriminamos ninguém!

- Como não é discriminação? E se eu fosse muçulmano? Vocês iam me obrigar a vestir uma calça comprida? E isso não é discriminação? Vocês discriminam as pessoas sim!

Discrimina, não-discrimina, o bate-boca continuou com um se referindo ao conceito mais amplo de discriminação, baseado nas roupas e na questão social, e o outro morrendo de medo de levar um processo por discriminação racial. Quando o Sr. T me contou essa história, eu perguntei:

- Mas e aí? E como terminou o bafafá?

Ele abriu um sorriso triunfante e respondeu:

- Owwwww, queridinha, eu paguei a conta, é claro... E de bermuda!