domingo, 28 de agosto de 2011

Dúzias de coisas que fazem a gente feliz

Semana passada eu encontrei um livro infantil que dei de presente ao Sr. T no ano em que a gente se conheceu. O livro é do Otávio Roth, chamado "Duas dúzias de coisinhas à toa que deixam a gente feliz". O texto divertido do livro e as minhas anotações nele me fizeram lembrar de quando eu sentia uma felicidade quase insuportável. É o tipo de felicidade que chegamos a ter medo quando sentimos porque ela é tão intensa que não pode mesmo durar. Então, o sentimento de felicidade se torna um presságio como se algo ruim fosse acontecer.


Passarinho na janela,
pijama de flanela,
brigadeiro na panela.

Gato andando no telhado,
cheirinho de mato molhado,
disco antigo sem chiado.

Pão quentinho de manhã,
drops de hortelã,
grito do Tarzan.

Tirar a sorte no osso,
jogar pedrinha no poço,
um cachecol no pescoço.

Papagaio que conversa,
pisar em tapete persa,
eu te amo e vice-versa.

Vaga-lume aceso na mão,
dias quentes de verão,
descer pelo corrimão.

Almoço de domingo,
revoada de flamingo,
herói que fuma cachimbo.

Anãozinho de jardim,
lacinho de cetim,
terminar o livro assim.

Na página que diz "jogar pedrinha no poço", eu completei com "fazer um pedido: amor para sempre!". No final do livro, tem um espaço para o leitor escrever a lista de coisas que o deixam feliz. Eu escrevi as coisas que amava fazer com o Sr. T, algumas que eu nem me lembrava mais.


Beijar você na boca
Andar de mãos dadas
Ouvir sua voz rouca
Deitar na rede
Ver o Sol nascer
Dormir agarradinhos
Gravar CD
Ir ao cinema
Desfilar sem roupa
Falar ao telefone
Mexer no seu cabelo
Pegar sol nas costas
Tirar foto enrolada no lençol
Mandar e-mail
Receber e-mail

sábado, 20 de agosto de 2011

Superando os próprios limites

Eu não quis escrever nada no dia dos pais de propósito. Ignorei a data por uma questão de escolha mesmo, chega um determinado momento no processo do luto que ou você vai em busca do sofrimento ou opta por se libertar disso. O dia dos pais é uma data comercial que não me traz nenhuma lembrança especial do Sr. T (a não ser o bombardeio da mídia dizendo que precisamos comprar presentes neste dia especial). Eu me recuso a reviver a minha tristeza porque a Lojas Americanas está fazendo uma promoção imperdível para o seu paizão... Obviamente, D. Maricota não ficou totalmente imune ao controle midiático, me perguntou várias vezes sobre o dia dos pais e parecia refletir sobre como lidar com não ter alguém para dar um presente. Felizmente, um casal amigo estava nos visitando, ela sem pai, eu sem pai, ele sem filhos. No domingo foi aniversário do marido da minha amiga e passamos um dia tranquilo, cozinhando, conversando e fazendo muitos chamegos em D. Maricotinha... Não liguei a televisão, não saímos de casa e nem lembramos que era dia dos pais. Ao evitar o contato com outras crianças e pessoas que estavam comemorando o dia, ficou mais fácil de enfrentar o desafio. O mundo é ridiculamente simples quando nos desconectamos de tudo...

sábado, 6 de agosto de 2011

O segredo de Brokeback Mountain

O texto mais lindo que eu li sobre o filme "O segredo de Brokeback Mountain" foi do Artur Xexéo, em sua coluna no Jornal O Globo. No texto, o autor transcende a questão da homossexualidade e trata o filme como uma história de amor que poderia acontecer com qualquer um de nós: "Brokeback Mountain" narra uma história de amor. Uma história de amor impossível, como as que rendem bons filmes. Mais do que mostrar o que acontece com um casal gay em que uma das pontas não assume sua homossexualidade, o filme mostra o que acontece com um ser humano que não assume seu querer. Em alguns momentos da nossa vida somos colocados diante de escolhas nas quais o coração insiste em não ser racional, ético, cauteloso ou leal. Nesses momentos, nos debatemos entre a racionalidade e o querer, que sempre resultará em uma escolha legítima ou de acomodação. Ontem eu falava sobre a tranquilidade que carrego comigo por ter finalizado o meu percurso com o Sr. T. Claro que existe a tristeza da perda, mas não tenho a inquietude ou a angústia do que não foi dito, finalizado ou esclarecido. Eu realmente pulei da ponte e foi um momento de transformação na minha vida. Como diz a escritora Martha Medeiros, hoje eu sou como aqueles — poucos — que respeitam muito mais os sentimentos do que as convenções.Quando uma das partes não assume o seu querer, envenena o coração dos dois, mesmo que racionalmente tenha feito a escolha mais sensata. Mas nós estamos falando de coisas do coração, não é mesmo?

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

O universo tátil de D. Maricota

Eu e D. Maricota passamos uma semana na casa de uma grande amiga de infância que se casou recentemente. O casal ficou apaixonado por D. Maricota e ela retribuiu as atenções com muitos carinhos, miados e fofices. Na quarta-feira, estávamos assistindo "Procurando Nemo" (pela enésima vez) e D. Maricota sentou-se no colo do marido da minha amiga, olhando para ele por um bom tempo. Fez vários carinhos na barba dele, passou a mão no cabelo, apertou o nariz, circulou os olhos e por fim deitou-se no colo dele toda aconchegada para continuar assistindo o desenho. Ela não foi pegajosa nem agiu como uma criança carente, parecia que ela estava analisando o rosto dele e comparando com as lembranças do passado. Foi o único momento em que ela agiu assim. Observar aquela cena apertou tanto o meu coração que fiquei sem ar e fui chorar na cozinha. É triste demais descobrir que eu não sou mesmo suficiente para uma criança que foi tão amada e paparicada pelo pai como D. Maricota!

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Diálogos terríveis

Ele: Você nunca me pede desculpas, eu nunca ouvi um pedido de desculpas seu!
Ela: E você? Me pediu desculpas alguma vez durante todos esses anos?
Ele: Sabe por que eu não peço desculpas? Sabe por que? Porque tudo o que eu faço é por sua culpa! Você é que me faz fazer coisas ruins!
Ela: ???
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Ele: O problema do nosso casamento é que você sempre está cansada e arruma um monte de desculpas para não transar.
Ela: Precisamos mesmo conversar sobre isso. A gente podia sair, jantar, ir ao cinema, conversar...
Ele: O que você quer dizer com isso? Está insinuando que agora eu vou ter que pagar para transar?
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Ela: Estou cansada de você não fazer nada e me sobrecarregar o tempo todo! Estou cansada da sua falta de sensibilidade, você é um cretino egoísta!
Ele: E você que mente o tempo todo? Cheia de subterfúgios, escorregadia e mentirosa!
Ela: Mentirosa? Mas quando foi que eu menti para você? Anda, me diz!
Ele: Não sei dizer quando, mas eu tenho certeza de que você mente! É da sua natureza ser sonsa!
Ela: (...)
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O meu pior diálogo com o Sr. T:
Eu: Não aguento mais a responsabilidade de tudo, eu tenho três empregos, tenho que aturar os maiores absurdos no trabalho todos os dias! Estou no meu limite!
Sr. T: Mas eu reconheço todo o seu esforço!
Eu: Não adianta você reconhecer o meu esforço, eu quero que você carregue o peso da responsabilidade comigo. Não adianta ficar apenas observando e "reconhecendo" o meu sacrifício!
Sr. T (triste): Eu sei onde você quer chegar e quero dizer que agradeço imensamente tudo o que você fez e faz por mim. Não sou idiota, vejo a sua insatisfação comigo nos seus olhos e a sua impaciência nos seus gestos todos os dias. Estou entendendo aonde essa conversa vai chegar e agradeço de coração a sua generosidade. Espero um dia poder retribuir tudo o que você tem feito por mim.
Eu (com uma bigorna na cabeça de tão culpada, respondi baixinho): Só queria que você soubesse como eu me sinto...
Os diálogos ilustram e resumem o que existe de pior nos relacionamentos. Alguns aconteceram há mais de 20 anos e o mais recente há menos de três anos. Sou capaz de reproduzir com exatidão cada um deles, comprovando que as palavras ferem e são mesmo perigosas. Precisamos ter muito cuidado com elas...