domingo, 28 de novembro de 2010

Pilar e Saramago

O amor e a juventude estão sempre associados em nossa sociedade, como se a paixão estivesse reservada aos mais jovens. A paixão avassaladora, o amor incontido e o desejo incontrolável são sempre características do ímpeto juvenil. O amor maduro é retratado quase sempre como algo passivo, morno e entediante... Exatamente por causa de tantos equívocos e estereótipos, eu adorei a reportagem sobre o amor de Saramago e Pilar del Rio. Ele se referia ao seu amor como "aquela que tanto tardou a chegar" (uma clara alusão ao fato de a ter conhecido já na meia idade). A maioria das fotos dos dois mostra o desejo incontido e a atração física evidente entre eles, fato bastante inusitado considerando a idade do casal. Como todos sabem, Pilar ficou viúva recentemente, mas segundo a reportagem, ela se recusa a carregar a viuvez como um fardo. "Tive a honra e a satisfação de ter vivido com Saramago por 24 anos e não vou seguir a minha vida enredando uma viuvez. Saramago cumpriu seu ciclo vital. Vivi antes com Saramago ao meu lado. Agora, com Saramago dentro". Bom, depois dessa não preciso dizer mais nada, não é mesmo?

sábado, 27 de novembro de 2010

A realidade, segundo Dona Mariazinha

Todos nós temos a pretensão de entender o universo das crianças. Pensamos que sabemos tudo, buscamos revolver a memória e trazemos nossas lembranças infantis à tona para dar conta da dose de imaginação cavalar que os pequenos nos apresentam o tempo todo... Lidar com a própria perda é muito mais fácil do que ver o sofrimento de uma menina de cinco anos, diariamente. Tenho ficado mais aliviada com os nossos últimos diálogos, pois percebo que a angústia está suavizando e ela começa a colocar as suas indagações para fora.
- Mamãe, eu tenho muita saudade do papai.
- É, filha? Eu também...
- Ele vai voltar um dia?
- Não filha, não vai. Quando a pessoa vai para o céu, não volta nunca mais.
- Mas eu queria ver papai de novo. Eu não gosto de não ter pai, só eu não tenho pai!
- Não é verdade filha, muitas pessoas não tem pai. O papai da mamãe também morreu, as pessoas morrem.
- Papai não morreu!!! Ele foi para o céu!
Ai, o que eu respondo agora? Mudo de assunto, canto uma música ou peço ajuda aos universitários?
- Mas filha, para ir para o céu a pessoa tem que morrer. Não pode ir para o céu sem morrer...
- Eu sei mamãe, mas papai não! Ele não morreu, ele só estava com um pouquinho de dor de cabeça... Ele não estava doente, nem velhinho, então ele foi para o céu, mas não morreu!
- Está bem, filha...
Ela fica em silêncio por um tempo e depois completa:
- Sabe mamãe, é que eu não gosto quando você diz que morreu. Não diz mais isso, tá bem mamãe?
- Está combinado filha, não vou mais dizer isso.
Continuo dirigindo, tentando manter o meu mundo em pé. A realidade para Mariazinha é assim, então, assim será!

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

A xícara quebrada

Há mais de vinte anos, uma grande amiga viajou para a Europa e me deu uma xícara de porcelana branca com um desenho e a frase You are the apple of my eyes. Eu guardei a xícara com todo o cuidado e ela continua intacta no armário da cozinha. Apesar das minhas inúmeras mudanças de casa (e até de estado!) ela continua sem um arranhão. Quando eu e o Sr. T começamos a comprar as coisas para a nossa casa, nos apaixonamos por lindas xícaras brancas que eram vendidas no supermercado Pão de Açúcar. Elas tinham estampas engraçadas com frases do tipo "Se quiser melhorar é só me chamar" ou "Seu mundo caiu? Vem para o meu que ele ainda está de pé". Nós adorávamos as xícaras e elas eram usadas todos os dias. Eu tinha uma superstição com elas, sempre acreditei que elas absorviam alguma coisa do nosso relacionamento e precisavam ficar inteiras para preservar nós dois. Eu já tinha a experiência da primeira xícara que guardei e a pessoa que me deu a xícara continua a minha melhor amiga até hoje. Lembro que quando contei como eu me sentia em relação as xícaras para o Sr. T, ele não riu ou achou que era alguma loucura, simplesmente disse que também tomaria muito cuidado com elas quando usasse ou na hora de lavar a louça. Na última segunda-feira, aproveitei o feriado para arrumar o armário da cozinha. Encontrei uma das xícaras com a borda lascada, uma rachadura enorme no corpo e a asa partida. Sentei na cadeira da cozinha olhando para a xícara e pensei há quanto tempo ela devia estar ali escondida. Misteriosamente, olhando para a xícara partida, pensei que agora fazia sentido que o nosso amor também tivesse se quebrado...

domingo, 14 de novembro de 2010

O amor e outros desastres

Acabei de assistir O Amor e Outros Desastres e a-do-rei a estética do filme. A mistura dos anos 50, as referências, os carros antigos e os equipamentos modernos, toda uma mistura inusitada que criou um resultado muito interessante. Os clássicos estão todos lá, desde Bonequinha de Luxo e A Malvada até o mais recente Sintonia do Amor. Fofo demais! Porém, mais do que o visual inusitado, o meu coração pulou com um diálogo do filme que parece que foi copiado das minhas conversas com o Sr.T. Jacks pergunta ao Peter (amigo que se recusa a viver o amor porque passa a vida idealizando os relacionamentos): E se o amor for uma escolha? E se não for um raio que cai nas nossas cabeças? E se for simplesmente uma questão de escolha, de querer se dar para uma pessoa sem esperar nada em troca? Foi exatamente essa questão que sempre orientou o meu relacionamento com o Sr.T, só que ele era a Jacks e eu o Peter. Enquanto tivemos liberdade para conduzir as nossas vidas, nós dois sempre fomos o resultado de nossas escolhas. The End.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Surpresa na doceria

Sem dúvida, a vida sempre nos surpreende nos locais mais improváveis. O Sr. T e eu sempre íamos comer sobremesas deliciosas em uma doceria que fica em Manaíra. As mulheres que trabalham lá sempre foram muito gentis conosco e, obviamente, o Sr. T era sempre recebido como um dia de festa. Talvez fosse a gentileza e atenção que ele sempre dispensava a todas elas, talvez fosse apenas o boa tarde e obrigado em suas ações ou quem sabe fosse a sua escolha por enoooormes pedaços de torta de chocolate (vai saber o motivo), mas elas sempre o tratavam muito bem. Era uma característica do Sr. T, ele sempre tinha muito cuidado ao tratar as pessoas humildes que desempenhavam a função de servir e não era por condescendência: ele realmente se identificava com essas pessoas em suas origens e trajetória de vida. Voltei lá umas duas vezes nas últimas semanas para adoçar um pouco a vida de Dona Maricota, já que a realidade não tem sido fácil para ela. Com o movimento sempre grande, não tive oportunidade de comentar nada sobre a partida do Sr. T, mas ontem a atendente mais velha me surpreendeu: - Onde está meu amigo que sempre escolhia os grandes pedaços de torta? Está de regime ou não gosta mais de nós? Fiquei desconcertada, com um peso enorme no coração por ter que contar o que tinha acontecido. Levei um susto com a reação dela, a moça simplesmente desabou num choro tão sentido que não aguentei e chorei junto com ela. Quando saí da loja, disse para a minha filha mais velha: - Se eu morrer e uma balconista chorar tão sentida pela minha perda, significa que consegui expressar toda a generosidade do meu coração e cada momento da minha vida valeu a pena!

domingo, 7 de novembro de 2010

Esperando na estação

Uma grande amiga de infância se separou do marido e nos meses seguintes ela sempre se queixava da solidão. Estar sozinha era o grande problema da separação e eu não entendia como ela podia se sentir tão sozinha com três filhos dentro de casa. Depois de algum tempo ela encontrou um novo amor e entendi que a solidão para ela era não ter com quem dividir as pequenas coisas do cotidiano. Eu não tenho problemas em fazer as coisas sozinhas, sim, às vezes cansa, mas não tenho uma natureza gregária. Gosto da solidão, sempre busco ter um espaço para refletir e meditar. Assim, não sinto falta do Sr. T por me sentir sozinha, pelo contrário. Resolvo as tarefas do meu cotidiano muito melhor sozinha do que acompanhada, antes um ficava esperando o outro resolver as pequenas coisas ou então encontrávamos algo melhor para fazer do que pintar as paredes ou trocar as lâmpadas. Agora não, as questões domésticas estão bem encaminhadas e justamente por ter consciência que não tenho problemas com a solidão ou com o gerenciamento da casa, é que me dou conta da imensidão de sua falta. Semana passada eu voltei para casa mais tarde do que o habitual e foi impossível não lembrar do nosso código. Toda vez que eu saía mais tarde, eu telefonava para o Sr. T e avisava que estava saindo naquele momento. Ele sempre respondia: - Venha com calma querida, estou te esperando. A frase era uma espécie de desdobramento de uma mais ampla que ele sempre me dizia quando ainda namorávamos: - Estou te esperando, vem morar mais eu... Me dei conta de que desde o dia em que nos conhecemos sempre estivemos viajando, curtas ou longas viagens, mas sempre indo ao encontro um do outro. O Sr. T não pode mais dizer que está me esperando e percebo que a minha solidão é irreparável porque não sinto falta de alguém me esperando (tenho várias pessoas me esperando em casa), eu sinto falta da generosidade da espera dele e tudo o que ela representava.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Estamos tão orgulhosas...

Eu e Mariazinha fomos votar juntas e ela ficou muito feliz em apertar a tecla confirma e ver a foto da Dilma. Como diria ela, "nós voltamos e ganhamos, né mamãe? Na festa da democracia e do projeto do PT para o Brasil, só faltou o Sr. T participando de tudo. Como ele gostaria de ter visto essa vitória!