terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Yuki song (Deep Forest)

Throwing sparks at my frozen angel (Jogando faíscas no meu anjo congelado)
Gathering the words to coax the fire to start (Juntando palavras para forçar o fogo a começar)
Throwing sparks at my frozen angel (Jogando faíscas no meu anjo congelado)
Words to melt the ice around your pretty heart (Palavras para derreter o gelo ao redor do seu lindo coração)

Turn the ice to water, the water into flood (Transformar o gelo em água, a água em inundação,)
The flood becomes a river, a river of pure love (A inundação se torna um rio, um rio de puro amor)
Love comes into delta, nourishing the sea (Amor vem em delta, nutrindo o mar)
Sea goes out to ocean (O mar sai para o oceano)
Ocean endlessly (Oceano infinito)

Throwing sparks at my frozen angel (Jogando faíscas no meu anjo congelado)
Gathering the words to coax the fire to start (Juntando palavras para forçar o fogo a começar)
Throwing sparks at my frozen angel (Jogando faíscas no meu anjo congelado)
Words to melt the ice around your pretty heart (Palavras para derreter o gelo ao redor do seu lindo coração)

The second before you walk into the room (O segundo antes de você entrar na sala)
I had no thoughts of love whatsoever (Eu não tinha pensamentos de amor de qualquer natureza)
Love was not on my mind (Amor não estava na minha mente)
Nothing but my life, (Nada, mas a minha vida)
My life was all settled in, (Minha vida estava estabelecida)
It was just the way it needed to be (Era tudo que eu precisava que fosse)
And I fell upon you (E eu cai por você)
Like something out of the blue (Como algo inesperado)
It was out of the blue, I didn't know (Era inesperado, e eu não sabia)
I didn't see it coming (Eu não percebi acontecendo)
But it came upon me (Mas isso veio sobre mim)
And it held a hold on me (E isso manteve um poder sobre mim)
Took a hold on me (Apoderava-se de mim)
And I could not help but believe (E eu não poderia deixar de acreditar)
I have faith in this thing (Eu tenho fé nisso)
I have one chance in my life and I must take it (Eu tenho uma chance na minha vida e eu tenho que agarrá-la)
And I've got to give it to you and I will not let it go (E eu tenho que dar isso a você e eu não vou deixar isso ir)
I will not let it go (Eu não vou deixar isso ir)
It's the only thing I can believe in (É a única coisa em que eu posso acreditar)
Oh, I can believe in (Oh, eu posso acreditar)

domingo, 11 de dezembro de 2011

Aquarela

Ninguém tem dúvida de que os relacionamentos são difíceis, a convivência é um desafio e vários sentimentos (gratidão, compaixão, dependência) surgem disfarçados de amor. Separar o joio do trigo exige um nível de introspecção e autoconhecimento que poucos estão dispostos a enfrentar. Eu sempre me surpreendo com pessoas que não aceitam o fim de um relacionamento. Como assim, "não aceitam"? É possível obrigar alguém a amar outra pessoa? É possível obrigar alguém a continuar vivendo com quem não se ama mais? Como será que as pessoas que "não aceitam" o fim de um relacionamento lidariam com a morte? Sim, aí o bicho pega, lidar com a ruptura involuntária dos dois sem ter com quem reclamar ou perseguir, significa aceitar que não nos cabe decidir o destino. Só assim é possível ter a exata dimensão de como somos pequenos e impotentes. Como ninguém pode antever o futuro e se preparar para perder o controle sobre a própria vida, é sempre bom ler um pouco mais de poesia para entender melhor a nossa essência...


E o futuro é uma astronave
Que tentamos pilotar
Não tem tempo, nem piedade
Nem tem hora de chegar
Sem pedir licença
Muda a nossa vida
E depois convida
A rir ou chorar...

domingo, 4 de dezembro de 2011

Beleza americana (olhe bem de perto)

O filme Beleza Americana é perturbador em vários sentidos porque mostra que o ideal da família feliz em comercial de margarina e outdoor de empreendimento imobiliário, é uma farsa. A família padrão branca, com um casal de filhos (é sempre um casal, já repararam?), financeiramente bem sucedida e vivendo em plena harmonia, esconde muitos segredos. Alguns segredos são patéticos, outros apenas um clichê, mas alguns são assustadores de verdade. As relações humanas são complexas, mas nada é mais complicado do que a tessitura de uma relação a dois. As mágoas irreversíveis podem gerar um jogo perigoso onde nem sempre a vítima e o opressor assumem papéis claros. Por que um oprime o outro? Por que o oprimido permite se sujeitar à todo tipo de opressão? Quais os mecanismos que mantém o processo de loucura das pessoas disfarçados em uma família feliz? Alguns autores usam o termo "família disfuncional" para explicar o que acontece nos subterrâneos dos relacionamentos, mas penso que não é tão simples assim. Fico angustiada por não ter as respostas e já vivi algumas experiência nesse contexto. Só sei de uma coisa: quando se escolhe ser transparente e viver os relacionamentos como eles são, não se pode usar máscaras. Sem máscaras, a vida fica um pouco mais dolorida, mas infinitamente mais fácil de viver.

domingo, 20 de novembro de 2011

Mamãe, você é negra?

Semana passada, ao voltar de viagem, fui surpreendida com a seguinte pergunta de D. Maricota: - Mamãe, você é negra? Segundo ela, a escola está trabalhando o tema e todos nós somos brancos, índios, negros etc. O Sr. T era militante do movimento negro e só fui entender o que significava as políticas afirmativas depois de conviver com ele. Ele sempre dizia que D. Maricota poderia se reconhecer como negra dependendo do grau de inserção na cultura negra e do nível de aproximação dela com as questões étnicas, independente de sua aparência. O pensamento dele representava uma corrente do movimento negro que acredita que a questão da etnia está além da cor da pele (existem outras correntes não pensam assim). Obviamente, D. Maricota ainda era muito pequena para captar a dimensão das nossas discussões, mas quando uma criança de seis anos (que sequer sabe ler) reflete sobre a sua própria cor e a sua herança étnica, podemos ter esperança de um futuro melhor.


- Mamãe, você é negra?
- Ahn, hum, ahn... Não, filha, não sou.
- Você sabia que todos nós somos negros, brancos e índios?
- É mesmo?
- É sim! E você sabia que eu posso escolher ser negra? Porque papai era negro, não era? Então, eu também posso ser negra!
Ah, como o Sr. T ficaria feliz em ouvir esse discurso da sua filha querida!

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

No aeroporto

Sexta-feira, final de tarde no aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro. A fila para o táxi era quilométrica e um casal conversava, trocando impressões sobre o filme "Namorados para sempre (Blue valentine)".


Ela: Você não devia ter pedido para eu ver esse filme, enquanto eu assistia eu só pensava: "mas que filho da puta"!
Ele: Eu sei que o filme é pesado, é uma desconstrução terrível dos relacionamentos.
Ela: Fiquei impressionada como ele era apaixonado por ela no começo e faz de tudo para ficar com ela, até assume a filha que não era dele! Não é uma história de amor, ela não gostava dele de verdade...
Ele: Mas eu gostei muito da forma como eles se relacionam no começo, ela dançando para ele na rua é muito lindo.
Ela: E a cena final?
Ele: Eu chorei naquela cena!
Ela: Mas você nunca passou por isso! Eu sofri muito, você não faz ideia de como o filme me afetou! Fiquei arrasada...
Ele: Eu achei que a Michelle Williams estava fantástica, o filme é maravilhoso...
Ela: Sim, ele mostra como as pessoas podem mudar (e como mudam nos relacionamentos!). Será que isso vai acontecer com a gente também?

Durante a conversa, os dois interrompiam o diálogo e trocavam beijos delicados e apaixonados ao mesmo tempo. Depois de quase meia hora na fila, quando o casal já estava chegando no embarque do táxi, eles se deram conta que as pessoas ao redor estavam prestando atenção na conversa dos dois, sem sequer disfarçarem o interesse. Acho que se demorasse mais quinze minutos, o povo ia começar a dar palpites na conversa dos dois! Sinceramente, não sei o que atraiu a atenção das pessoas (a conversa, a relação dos dois, o toque...), só sei que aquele relacionamento era realmente especial...

domingo, 13 de novembro de 2011

Fim de caso

Já faz muito tempo que assisti "Fim de caso", mas uma das coisas que mais me impressionou no filme foi o poder do sacrifício silencioso. Lembro da minha chefe (uma dondoca afetada e sem-noção) que adorava contar para todos (principalmente nas reuniões e quando tinha público) o quanto ela era generosa com as pessoas necessitadas. Eu sempre desconfio muito de quem faz alarde das boas ações... O filme tem como pano de fundo a guerra na Inglaterra de 1939. Sarah Miles (Julianne Moore) é casada com Henry (Stephen Rea), mas vive um caso de amor com Maurice Bendrix (Ralph Fiennes). Um dia, depois de um intenso bombardeio no local onde os dois estavam, Sarah sai da vida de Maurice sem qualquer explicação. Ele alimenta um ressentimento profundo por ela e descobre depois que ela fez uma promessa para que ele sobrevivesse ao bombardeio. Já conheci muitas pessoas que se apegam ao outro de forma negativa, quase parasitária. São capazes de qualquer coisa para manter o seu (suposto) objeto de amor, não importa em que condição ou a que preço. Algumas radicalizam ao ponto de achar melhor o seu amor morto do que feliz com outra pessoa (sim, são muitas pessoas que agem e pensam assim). Depois de tudo que eu vivi até hoje, consigo lidar com o amor de outra forma, não porque eu seja especial ou conheça algum segredo, mas porque é a única forma possível de lidar com os meus sentimentos. Diariamente, eu pratico o desapego das coisas e das pessoas e tenho certeza de que hoje eu estaria preparada para abrir mão da pessoa que amo, sem pensar duas vezes, se isso pudesse salvar a sua vida ou torná-la mais feliz.

sábado, 5 de novembro de 2011

Controle

Houve um momento na minha vida em que decidi que eu precisava assumir o controle e ser responsável pelas minhas escolhas. Desde então, eu só me dei mal quando permiti que outras pessoas assumissem o controle da minha vida e tomassem decisões importantes. Estar no controle significa assumir todas as responsabilidades por suas escolhas e, embora possa parecer assustador, nada é mais aterrador para qualquer ser humano do que descobrir que é manipulado o tempo todo. Por isso mesmo o filme O Show de Truman é tão perturbador... Eu não consigo lidar com pessoas que não assumem o controle de suas vidas, que são vítimas dos outros, da própria acomodação ou dos acontecimentos. Talvez seja exatamente por isso que eu tive tanta dificuldade em lidar com a morte do Sr. T. Estar diante do inesperado, do irreversível e lidar com a total falta de controle sobre o destino e sobre os meus próprios sentimentos, foi um divisor de águas para mim. Posso dizer que vivi em um estado de quase insanidade por alguns meses. Aos poucos, fui recuperando o controle das minhas emoções, do meu corpo, da minha saúde, da minha vida... Um amigo me perguntou se eu tinha medo de um novo relacionamento por não suportar ter o coração partido novamente. Ri alto. O que é ter um coração partido depois que ele já foi triturado? Como dizem nos Estudos Culturais, do lugar de onde eu falo, posso afirmar: hoje, eu não tenho medo de mais nada...

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Entretanto, amamos o deserto

O meu livro preferido de Antoine de Saint-Exupéry (o autor do clássico O pequeno príncipe) é Terra dos homens. Assim como o autor - que foi piloto de correspondência na década de 1920 - eu também amo o deserto. Quando eu estava na universidade, fiz um trabalho lindo para a disciplina de Biogeografia sobre os desertos quentes e gelados do mundo. O deserto é um mistério porque nas condições mais improváveis, a vida surge de forma surpreendente e desafia os visitantes de um só dia. Enfrentar o deserto é como enfrentar um coração árido ou um amor pleno, é preciso ter coragem... "Você compreende, sem alimento, depois de três dias de marcha, meu coração não devia estar batendo com muita força... Pois em certo momento, quando eu progredia ao longo de uma encosta vertical, cavando buracos para enfiar as mãos, o coração me caiu em pane... Hesitou, deu uma batida... Uma batida estranha...Senti que se ele hesitasse um segundo mais seria o fim. Fiquei imóvel, escutando...Nunca - está ouvindo? - nunca, num avião, me senti tão preso ao ruído do motor como, naquele momento, às batidas do meu próprio coração. E eu lhe dizia: Vamos, força! Veja se bate mais... garanto-lhe que é um coração de boa qualidade. Hesitava, mas depois recomeçava, sempre... Se você soubesse como tive orgulho do meu coração!" Foi exatamente assim que eu me senti no último ano, no meio da aridez emocional da minha vida, eu pedia ao meu coração que continuasse a bater com força, que mantivesse o ritmo e não doesse tanto ao ponto de me deixar sem ar como sempre acontecia. Hoje, eu posso dizer tranquila: eu tenho tanto orgulho do meu coração!

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

A última ceia

O filme "A última ceia" é um dos filmes mais pesados que vi nos últimos anos que tratam a dor e a necessidade de continuar vivendo de forma crua e até mesmo cruel. A cena de sexo entre os protagonistas estabelece uma relação entre o sofrimento profundo do ser humano e o prazer, ao mesmo tempo cruel e libertador. Assim como o filme "Despedida em Las Vegas", os limites do ser humano, a sua desesperança e total opressão não suprimem o desejo de continuar vivendo e amando. Eu tenho uma história bem bonitinha sobre isso, do Sr. L e da Sra. B que é bastante emblemática nesse contexto. Apesar de se conhecerem há alguns anos, o seu encontro romântico aconteceu no cenário mais improvável: ele doente preparando-se para o pior e ela superando uma tragédia pessoal em sua vida. No contexto extremo das suas respectivas histórias, surgiu um sentimento maior que eles decidiram acreditar que era amor. Sim, acreditar no amor é também uma questão de escolha. Ele percebeu primeiro que ela o que estava acontecendo. Colocou um ponto final no casamento capenga de mais de vinte anos (!) - pausa para uma reflexão: como alguém fica tanto tempo em um relacionamento ruim? (não me perguntem, eu só posso relatar a história, mas não tenho mais detalhes) - e decidiu que ela era o seu amor. Ela foi mais arredia, desconfiada dos homens desde muito tempo atrás, custou a assimilar (e reconhecer) o que estava sentindo. Mas ele não se importava, ria das hesitações dela e acompanhava o seu medo de perto. Ela também não deu refresco e obrigou o coitado a discutir a relação intermináveis vezes, por horas a fio. E assim seguiram, "destornando" um ao outro... Na caminhada, fizeram uma viagem para fugir do mundo, se isolando de tudo e de todos com o intuito de descobrir o que realmente sentiam um pelo outro. Passaram alguns dias juntos e foi tudo tão perfeito que eles voltaram casados (metaforicamente, mas pelo menos com a intenção de viver debaixo do mesmo teto!). Os dois não são jovens, o futuro é incerto, mas a certeza deles sobre o que sentem é enorme. Ela diz que tudo o que quer para o futuro é estar com ele sem planos ou projetos e ele afirma que tudo o que quer é compartilhar as pequenas coisas do cotidiano. Quando ouço histórias como essa, penso nas hesitações mesquinhas e os medos que vivi a vida inteira. Daí, quero apenas um pouco da coragem dos dois para acreditar que todas as histórias merecem (e devem) ser vividas!

domingo, 16 de outubro de 2011

A queda de Alice

Eu gosto muito do livro "Alice no país das maravilhas" e as inúmeras possibilidades de leitura que podemos extrair do texto. A queda de Alice na toca do coelho (motivada por sua curiosidade) é um excelente paralelo para a necessidade do autoconhecimento. Outro momento interessante é a pergunta constante da lagarta: quem é você? Não podemos compreender o outro - mesmo que a nossa curiosidade seja aguçada - sem ter uma visão completa de nós mesmos. Parece óbvio, mas eu não costumo ouvir as pessoas se queixarem dos seus conflitos internos diante de um relacionamento, pelo contrário! Eu costumo ouvir "ele/ela não me compreende, ele/ela me deixa louca, ele/ela isso ou aquilo"... Resumindo: a culpa de toda infelicidade e desconforto está no outro. Como muitos outros estranhamentos dos meus leitores, preciso dizer que eu não sou assim. O primeiro impacto que sinto quando me envolvo com alguém é a necessidade que tenho de perscrutar a minha alma, entender o meu passado e como ele reflete nos meus sentimentos hoje. Eu faço isso com tamanha profundidade que o processo torna-se extremamente doloroso para mim e para o outro. Durante muito tempo eu despejei no Sr. T uma carga de culpa que nada tinha a ver com ele. Eram apenas os meus fantasmas me assombrando e eu custei a me livrar deles. Hoje tenho outros fantasmas, mas estou consciente da presença deles. Estou convencida de que amar alguém significa a oportunidade de se conhecer melhor. Apesar de ser positivo esse movimento de autoconhecimento, existe um período intenso no qual eu vou me contorcendo diante das inúmeras constatações das mágoas passadas, dos desenganos e imprudências que já vivi. Preciso expiar isso tudo primeiro, me livrar das dores antigas para enxergar o outro inteiro e me sentir inteira também. Com o Sr. T esse momento foi meio atropelado pela urgência e certeza dele de que o nosso amor era indestrutível. Não era, a falta de finalização do meu ciclo de ponderação e escolha, quase nos destruiu. Esperar o tempo do outro, a sua reconstrução e reacomodação pode ser muito bom para quem quer viver uma relação completa. Aos que se contentam com os rituais impostos em nossa sociedade, uma festa de casamento com jantar e trezentos convidados pode ser suficiente. Aos que precisam transcender para viver todas as possibilidades, um lembrete: é preciso cortar a carne e a alma!

sábado, 8 de outubro de 2011

Não sabemos mesmo de nada...

Quando eu conheci o Sr. T a sensação que eu tive foi de que dois mundos colidiram. Nós éramos tão diferentes que foi preciso um período de transição entre nós, no qual cada um descrevia o seu mundo para o outro. Esse momento foi uma espécie de lua de mel e nos retiramos do mundo para saber se o nosso casamento era possível. O lugar que escolhemos para fazer uma longa e dolorosa DR (DR=discutir a relação) de uma semana foi a praia paradisíaca de Carapibus. Eu tinha muitas dúvidas, sabia que nós dois tínhamos tudo para dar errado, mas resolvi arriscar. Afinal, não dizem que os opostos se atraem? A minha decisão foi fundamentada em dois fatores: eu nunca tinha sentido algo parecido por alguém e nunca tinha me arriscado antes. Apesar de intensa e atirada ao mundo, eu sempre evitei os relacionamentos que fugiam do meu controle com a maior facilidade. A racionalidade permeava as minhas decisões até o dia que o Sr. T entrou na minha vida. Agora eu me vejo diante da perspectiva de me relacionar com alguém parecido comigo, com o mesmo histórico, amigos em comum, lugares, memórias etc. Qual é o padrão afinal para fazer um relacionamento dar certo? Semelhança ou diferença? Hoje eu não considero mais a possibilidade de não me arriscar e consigo perceber com mais clareza e transparência os meus sentimentos e desejos. Mesmo assim, continuo alternando entre a crença no amor verdadeiro (porque o meu lado fada vestida com tecidos vaporosos acredita que o amor é bom, salva e cura) e o meu ceticismo diante das verdadeiras motivações que movem as pessoas.

sábado, 1 de outubro de 2011

Amar é...

Semana passada eu descobri que será relançado o álbum de figurinhas que fez sucesso na década de 80, o fofíssimo Amar é... Como não adorar o casalzinho pelado que resumia as bobagens do cotidiano de um casal apaixonado? Rever as figurinhas me fez pensar sobre o nosso (confuso) conceito de amor. No nossa sociedade, conhecemos uma pessoa interessante, nos sentimos atraídos, namoramos, casamos e - supostamente - vivemos felizes para sempre. Infelizmente, esse modelo linear não está dando mais conta do recado para explicar toda a complexidade das diferentes formas de amar. Podemos amar mais de uma pessoa ao mesmo tempo? Existe apenas uma única metade para cada um de nós? Se nunca a encontrarmos ou a perdermos, teremos como único destino a infelicidade? O amor romântico é um engodo? Nos últimos meses, várias pessoas se preocuparam comigo, queriam que eu não ficasse tão deprimida, que eu considerasse continuar vivendo,arrumasse um namorado e tocasse a vida para frente, mas nada é tão fácil como parece. Um grande amigo, o Sr. L, se separou recentemente e a conclusão estarrecedora ao fim de 28 anos de casamento: o que ele sentia não era amor! Bang! Tiro certeiro na ideia de que as pessoas se casam (e continuam casadas) por amor... Analisando os meus casamentos (foram só dois, tá gente?) eu concluo que quando estive formalmente casada não havia amor, mas no meu casamento destrambelhado com o Sr. T, o amor fluía sem tempo ou limite. Sim, eu quero seguir em frente, encontrar alguém e viver um amor pantufa: confortável, tranquilo e modorrento... Mas antes de ter certeza de que encontrei a outra metade da minha pantufa de coelhinho azul, quero ter certeza do que é esse tal de amor!

domingo, 18 de setembro de 2011

Festa dos dinossauros

No começo do mês consegui (finalmente!) fazer uma festa de aniversário para D. Maricota. Não se animem muito, o meu conceito de festa de aniversário é um pouco diferente do resto das pessoas. Claro que tem bolo, comida, refrigerante, mas eu me recuso a reproduzir as festas padronizadas da classe média deslumbrada. Festa é para a criança, ela tem que escolher, participar, ajudar, opinar...Nada de festa em casas especializadas, pacotes prontos e crianças como coadjuvantes ou reizinhos da noite. É claro que colocar a mão na massa é muuuito cansativo, mas o resultado é único. Para começar, D. Maricota queria uma festa de dinossauros! Não existem assessórios para o tema de dinossauros, eu encontrei coisas para a festa da Barbie, do Ben 10, das Princesas, mas nada de dinos! A solução foi improvisar: comprei pano camuflado, metros de juta, brinquedos da própria aniversariante como decoração e saquinhos coloridos para as surpresas feitos pela vovó (emprestada) Beth. O bolo, como sempre, foi da minha vizinha maravilhosa que é mesmo uma artista e uma amiga fofa. No meio da festa caiu um temporal e fui obrigada a improvisar: peguei um saco de brinquedos cheio de bugigangas de D. Maricota, espalhei no meio do salão e as crianças viraram anjinhos comportados. No final da festa, eu estava mais morta do que viva e ainda tive que guardar tudo sozinha, mas o resultado foi incrível. No dia seguinte, acordei com D. Maricota me enchendo de beijos e dizendo: - Obrigada, mamãe, obrigada! Tem como não amar?


#No dia seguinte, reclamei com uma amiga que fiquei muito cansada porque tive que correr a festa inteira de salto alto. Ela me deu uma bronca e perguntou porque eu não usei uma sandália rasteirinha. Respondi que convidei várias mães chiques da escola de D. Maricota e como eu estava fazendo tudo e a festa era simples, eu precisava, pelo menos, estar arrumada. - Se eu estou de salto alto, sou excêntrica, mas de rasteirinha, sou uma arrasada! afirmei dando gargalhadas.


#Uma semana depois, encontrei com duas mães que estiveram na festa. As duas disseram que as crianças amaram a festa e que ficaram surpresas como uma festa "tão simples" foi tão boa. Tô dizendo...

sábado, 17 de setembro de 2011

É o cérebro, estúpida!

Depois que se machucou no mês passado, D. Maricota passou vários dias sensível e sobressaltada. Ficou frágil mesmo e passou a colocar o dedo na boca o tempo todo. Como eu pedia para ela tirar o dedo da boca a cada cinco minutos, ela resolveu ter uma conversa séria comigo:


- Mamãe, sabe por que eu coloco o dedo na boca? Perguntou ela muito séria.
- Não, filha, por que? Foi por que você se machucou?
- Não, mamãe. É o meu cérebro que fica pedindo para eu colocar o dedo na boca!
- É mesmo? O cérebro? Perguntei surpresa.
- É, ele fica me dizendo para colocar o dedo na boca e eu coloco, tendeu?
- Ahn... Entendi! Olha, então é fácil, é só você dizer para o seu cérebro que você não quer mais colocar o dedo na boca e pronto! Não é legal assim?
- Claro que não, mamãe! O cérebro manda na gente, a gente não manda no cérebro!! Olha, o meu manda o meu corpo fazer as coisas, o seu manda o seu corpo obedecer. Cada um tem um cérebro que manda, você não sabia?
- Ah, filha, agora eu entendi. Então, tá... Quem sabe o seu cérebro desiste de fazer você colocar o dedo na boca, né?
- Mamãe, o cérebro faz o que ele quer!

domingo, 11 de setembro de 2011

O galo de D. Maricota

Semana passada, eu vivi um grande estresse por causa de um acidente doméstico com D. Maricota. Ela tropeçou na cama de nossa cadelinha e bateu com a testa no portal do quarto. Na mesma hora formou-se um galo enorme e as minhas pernas viraram mingau de tal forma que eu precisei sentar. Durante alguns minutos, eu não conseguia olhar para o machucado, morrendo de medo de encontrar sangue. Não me interpretem mal, eu não sou uma mãe mole e histérica. A minha filha mais velha quebrou o braço oito vezes e vivia se arrebentando por aí. A diferença é que meu coração naquela época era mais jovem (e forte!) e eu não temia nada. D. Maricota nunca se machucou, só aparecia de vez em quando com os joelhos ralados e canelas roxas, mas nada sério. Pessoas, como ela chorou! Uma hora de choro sentido e convulsivo contada no relógio. Eu já não sabia o que fazer... Depois de muito gelo no galo, ele rapidamente achatou e passei a tarde ao lado dela atenta à qualquer alteração. No dia seguinte, o edema desceu para os olhos e ela ficou parecendo um urso panda com uma enorme mancha roxa ao redor do olho. Minha conclusão: estou velha demais para ser mãe de criança pequena, o meu pobre coração não aguenta emoções tão fortes!

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Temos um padrão?

O meu querido amigo, o Sr. S, tem uma teoria irritante sobre os relacionamentos: para ele, a Estatística é um bom instrumento para provar que existem grandes probabilidades de você encontrar a sua cara-metade em dezenas de pessoas diferentes, é tudo uma questão de percentual. Sim, não parece muito romântico e destrói toda a nossa (minha) concepção de alma gêmea, destinos traçados etc. É claro que eu não gosto nem um pouco dessa perspectiva, mas fiquei pensando nas últimas semanas se temos um padrão na busca do nosso amor. Se nós criamos um padrão inconsciente do perfil do nosso par, o Sr. S teria razão, tudo dependeria da minha projeção interna nos 38,7% exemplares masculinos, heterosexuais e disponíveis existentes em uma área de abrangência geográfica X. Eu sempre pensei que as características do Sr. T fossem um desvio no meu ideal de par, mas hoje estou convencida de que nós buscamos características semelhantes em todos os nossos possíveis pares ao longo da vida. O que muda ao longo do tempo, são as nossas preferências, desejos, padrão estético, personalidade etc. Durante um tempo da minha vida, eu gostava de homens de terno, hoje não me interessaria por um homem de terno nem que a minha vida dependesse disso! Talvez o meu amigo tenha razão, mas ainda gostaria de saber o que faz a pessoa A e não a B, nos causar palpitações, tremor nas pernas e frio na barriga. O que nos faz acreditar que estamos apaixonados por fulano e não por beltrano? As estatísticas do Sr. S definitivamente não dão conta das complexidades do coração...

domingo, 28 de agosto de 2011

Dúzias de coisas que fazem a gente feliz

Semana passada eu encontrei um livro infantil que dei de presente ao Sr. T no ano em que a gente se conheceu. O livro é do Otávio Roth, chamado "Duas dúzias de coisinhas à toa que deixam a gente feliz". O texto divertido do livro e as minhas anotações nele me fizeram lembrar de quando eu sentia uma felicidade quase insuportável. É o tipo de felicidade que chegamos a ter medo quando sentimos porque ela é tão intensa que não pode mesmo durar. Então, o sentimento de felicidade se torna um presságio como se algo ruim fosse acontecer.


Passarinho na janela,
pijama de flanela,
brigadeiro na panela.

Gato andando no telhado,
cheirinho de mato molhado,
disco antigo sem chiado.

Pão quentinho de manhã,
drops de hortelã,
grito do Tarzan.

Tirar a sorte no osso,
jogar pedrinha no poço,
um cachecol no pescoço.

Papagaio que conversa,
pisar em tapete persa,
eu te amo e vice-versa.

Vaga-lume aceso na mão,
dias quentes de verão,
descer pelo corrimão.

Almoço de domingo,
revoada de flamingo,
herói que fuma cachimbo.

Anãozinho de jardim,
lacinho de cetim,
terminar o livro assim.

Na página que diz "jogar pedrinha no poço", eu completei com "fazer um pedido: amor para sempre!". No final do livro, tem um espaço para o leitor escrever a lista de coisas que o deixam feliz. Eu escrevi as coisas que amava fazer com o Sr. T, algumas que eu nem me lembrava mais.


Beijar você na boca
Andar de mãos dadas
Ouvir sua voz rouca
Deitar na rede
Ver o Sol nascer
Dormir agarradinhos
Gravar CD
Ir ao cinema
Desfilar sem roupa
Falar ao telefone
Mexer no seu cabelo
Pegar sol nas costas
Tirar foto enrolada no lençol
Mandar e-mail
Receber e-mail

sábado, 20 de agosto de 2011

Superando os próprios limites

Eu não quis escrever nada no dia dos pais de propósito. Ignorei a data por uma questão de escolha mesmo, chega um determinado momento no processo do luto que ou você vai em busca do sofrimento ou opta por se libertar disso. O dia dos pais é uma data comercial que não me traz nenhuma lembrança especial do Sr. T (a não ser o bombardeio da mídia dizendo que precisamos comprar presentes neste dia especial). Eu me recuso a reviver a minha tristeza porque a Lojas Americanas está fazendo uma promoção imperdível para o seu paizão... Obviamente, D. Maricota não ficou totalmente imune ao controle midiático, me perguntou várias vezes sobre o dia dos pais e parecia refletir sobre como lidar com não ter alguém para dar um presente. Felizmente, um casal amigo estava nos visitando, ela sem pai, eu sem pai, ele sem filhos. No domingo foi aniversário do marido da minha amiga e passamos um dia tranquilo, cozinhando, conversando e fazendo muitos chamegos em D. Maricotinha... Não liguei a televisão, não saímos de casa e nem lembramos que era dia dos pais. Ao evitar o contato com outras crianças e pessoas que estavam comemorando o dia, ficou mais fácil de enfrentar o desafio. O mundo é ridiculamente simples quando nos desconectamos de tudo...

sábado, 6 de agosto de 2011

O segredo de Brokeback Mountain

O texto mais lindo que eu li sobre o filme "O segredo de Brokeback Mountain" foi do Artur Xexéo, em sua coluna no Jornal O Globo. No texto, o autor transcende a questão da homossexualidade e trata o filme como uma história de amor que poderia acontecer com qualquer um de nós: "Brokeback Mountain" narra uma história de amor. Uma história de amor impossível, como as que rendem bons filmes. Mais do que mostrar o que acontece com um casal gay em que uma das pontas não assume sua homossexualidade, o filme mostra o que acontece com um ser humano que não assume seu querer. Em alguns momentos da nossa vida somos colocados diante de escolhas nas quais o coração insiste em não ser racional, ético, cauteloso ou leal. Nesses momentos, nos debatemos entre a racionalidade e o querer, que sempre resultará em uma escolha legítima ou de acomodação. Ontem eu falava sobre a tranquilidade que carrego comigo por ter finalizado o meu percurso com o Sr. T. Claro que existe a tristeza da perda, mas não tenho a inquietude ou a angústia do que não foi dito, finalizado ou esclarecido. Eu realmente pulei da ponte e foi um momento de transformação na minha vida. Como diz a escritora Martha Medeiros, hoje eu sou como aqueles — poucos — que respeitam muito mais os sentimentos do que as convenções.Quando uma das partes não assume o seu querer, envenena o coração dos dois, mesmo que racionalmente tenha feito a escolha mais sensata. Mas nós estamos falando de coisas do coração, não é mesmo?

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

O universo tátil de D. Maricota

Eu e D. Maricota passamos uma semana na casa de uma grande amiga de infância que se casou recentemente. O casal ficou apaixonado por D. Maricota e ela retribuiu as atenções com muitos carinhos, miados e fofices. Na quarta-feira, estávamos assistindo "Procurando Nemo" (pela enésima vez) e D. Maricota sentou-se no colo do marido da minha amiga, olhando para ele por um bom tempo. Fez vários carinhos na barba dele, passou a mão no cabelo, apertou o nariz, circulou os olhos e por fim deitou-se no colo dele toda aconchegada para continuar assistindo o desenho. Ela não foi pegajosa nem agiu como uma criança carente, parecia que ela estava analisando o rosto dele e comparando com as lembranças do passado. Foi o único momento em que ela agiu assim. Observar aquela cena apertou tanto o meu coração que fiquei sem ar e fui chorar na cozinha. É triste demais descobrir que eu não sou mesmo suficiente para uma criança que foi tão amada e paparicada pelo pai como D. Maricota!

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Diálogos terríveis

Ele: Você nunca me pede desculpas, eu nunca ouvi um pedido de desculpas seu!
Ela: E você? Me pediu desculpas alguma vez durante todos esses anos?
Ele: Sabe por que eu não peço desculpas? Sabe por que? Porque tudo o que eu faço é por sua culpa! Você é que me faz fazer coisas ruins!
Ela: ???
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Ele: O problema do nosso casamento é que você sempre está cansada e arruma um monte de desculpas para não transar.
Ela: Precisamos mesmo conversar sobre isso. A gente podia sair, jantar, ir ao cinema, conversar...
Ele: O que você quer dizer com isso? Está insinuando que agora eu vou ter que pagar para transar?
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Ela: Estou cansada de você não fazer nada e me sobrecarregar o tempo todo! Estou cansada da sua falta de sensibilidade, você é um cretino egoísta!
Ele: E você que mente o tempo todo? Cheia de subterfúgios, escorregadia e mentirosa!
Ela: Mentirosa? Mas quando foi que eu menti para você? Anda, me diz!
Ele: Não sei dizer quando, mas eu tenho certeza de que você mente! É da sua natureza ser sonsa!
Ela: (...)
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O meu pior diálogo com o Sr. T:
Eu: Não aguento mais a responsabilidade de tudo, eu tenho três empregos, tenho que aturar os maiores absurdos no trabalho todos os dias! Estou no meu limite!
Sr. T: Mas eu reconheço todo o seu esforço!
Eu: Não adianta você reconhecer o meu esforço, eu quero que você carregue o peso da responsabilidade comigo. Não adianta ficar apenas observando e "reconhecendo" o meu sacrifício!
Sr. T (triste): Eu sei onde você quer chegar e quero dizer que agradeço imensamente tudo o que você fez e faz por mim. Não sou idiota, vejo a sua insatisfação comigo nos seus olhos e a sua impaciência nos seus gestos todos os dias. Estou entendendo aonde essa conversa vai chegar e agradeço de coração a sua generosidade. Espero um dia poder retribuir tudo o que você tem feito por mim.
Eu (com uma bigorna na cabeça de tão culpada, respondi baixinho): Só queria que você soubesse como eu me sinto...
Os diálogos ilustram e resumem o que existe de pior nos relacionamentos. Alguns aconteceram há mais de 20 anos e o mais recente há menos de três anos. Sou capaz de reproduzir com exatidão cada um deles, comprovando que as palavras ferem e são mesmo perigosas. Precisamos ter muito cuidado com elas...

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Quando eu me "destornei"

A minha relação com o Sr. T nunca foi restrita apenas ao plano afetivo de um relacionamento comum. Sem dúvida, é sempre o amor que nos move, mas antes de ser capaz de amar, é preciso ser. Quando eu era adolescente, fiquei apaixonada pelo livro "Uma aprendizagem, ou o livro dos prazeres" da Clarice Lispector, mas eu não entendia o processo que ela descrevia e a necessidade de autoconhecimento como condição prévia para viver um relacionamento pleno. Eu acreditei durante muitos anos que o casamento (e o amor) exige sacrifícios, perdas, concessões, coisas que são um preço a pagar pela estabilidade, companheirismo, cumplicidade e conhecimento mútuo. Quando você acredita nisso, morre todos os dias e tem a mais absoluta certeza de que é feliz. O Sr. T era uma pessoa intensa e não aceitou desde o começo as minhas ponderações. Assim como o Ulisses de Uma aprendizagem..., ele disse que só me queria se eu fosse inteira e para ser inteira, eu teria que pular da ponte. Eu resisti durante meses, fugi, briguei, terminei, voltei, manipulei... E ele lá, impassível e irredutível. Foi aí que eu me "destornei", mudei pelo avesso as minhas concepções de mundo e as minhas percepções da vida. Eu simplesmente escolhi ser feliz e acreditem, é preciso coragem para ser feliz porque vivemos em uma sociedade que nos diz que sofrer é privilégio (ou que você só pode alcançar a felicidade adquirindo coisas). Depois da morte do Sr. T, eu passei meses tentando me reencontrar e no meio de tantos medos, eu não queria voltar ao antes. Hoje, na minha relação com as pessoas, eu as vejo com as suas convicções e medos, morrendo um pouco todos os dias, exatamente como eu era e percebo, aliviada, que eu não retornei ao ponto de partida. O meu "destornar" é irreversível...

terça-feira, 26 de julho de 2011

O pai do Sr. T

O pai do Sr. T era um homem do interior que educou os filhos em princípios muito rígidos, com uma vida de muito trabalho e pouca diversão. A forma de educar dele era tão dura que o Sr. T quando fez dezoito anos decidiu ser fuzileiro e sair de casa. Uma semana antes da viagem, o pai do Sr.T arrasado com a decisão do filho, pediu que ele ficasse e teve uma conversa reveladora sobre a dificuldade em criar os filhos para que se tornassem "pessoas de bem". Segundo o Sr. T, foi a primeira vez que o pai conversava com ele em tom de igualdade. Depois dessa conversa, o Sr. T resolveu ficar e a relação dos dois se tornou uma daquelas coisas raras que nos comove ao observar. O Sr. T visitava o pai toda semana, não viajava sem passar na casa dele e pedir a benção e passava horas ouvindo os "causos" que o pai contava. Muitos anos depois, o pai do Sr. T fez uma confissão ao filho. Ele disse que no dia em que viu que perderia o seu filho mais querido, teve que tomar uma decisão. Ou ele mudava e passava a compreender as transformações no mundo e uma nova forma de amar a família ou então ele perderia todos. - Foi a decisão mais importante da minha vida, eu precisa repensar tudo em que eu acreditava. Então, eu me "destornei". O pai do Sr. T era um homem do campo que tornou-se padeiro na cidade e mal concluiu o antigo primário. Nem preciso comentar o nível de sabedoria e compreensão da vida que esse homem tinha. Como dizia o Sr T após a morte do pai, "ele foi um grande homem que soube fazer muito bem o que é mais importante na vida: amar as pessoas!"

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Somos um só (not!)

Uma coisa que me incomoda sobre a teoria dos relacionamentos é a ideia de que duas pessoas se transformam em uma, algo parecido como uma entidade indivisível. O mito da alma gêmea de Aristófanes parece muito romântico e fofo, mas penso que a ideia vem sendo apropriada de forma equivocada. Na busca da tal metade perdida, criamos uma série de artifícios para ajustar o outro à nossa fantasia de par ideal. Queremos saber tudo do outro, não existem segredos ou limites, não controlamos apenas os passos da nossa metade, queremos saber até dos seus pensamentos (quem nunca ouviu a frase amor, tá pensando em que agora?). Conhecemos tanto a pessoa com a qual convivemos que em poucos anos ela se torna sem mistérios, sem surpresas e sem...graça! Claro que a paixão acaba, quem pode resistir a tanto conhecimento mútuo? Eu já vivi as duas situações: um casamento com convivência diária intensa (vivia junto e trabalhava junto no mesmo lugar) e o meu casamento com o Sr. T que sempre me surpreendia contando algo inusitado sobre a sua história. No primeiro caso, eu não tinha qualquer sensação de que tinha encontrado a minha alma gêmea e no caso do Sr. T, eu tinha a certeza absoluta de que ele era a minha metade perdida. Detalhe maior ainda: apesar de nossa convivência intensa durante oitos anos, de todas as nossas conversas pela madrugada e diálogos incessantes, ainda assim, no velório dele foram ditas várias coisas que eu não sabia. Nós dois tínhamos o nosso espaço de compartilhamento e de individualidade muito bem negociado e, mesmo assim, o meu maior desafio depois que ele morreu foi saber quem eu era. Eu passei seis meses perdida, não existia mais o ser uno e eu tentava me lembrar das coisas que eu gostava, dos amigos que tinha, dos meus projetos individuais... Esse é o grande risco que corremos quando nos transformamos no tal ser uno: biologicamente continuaremos sendo dois e quando o outro faltar por qualquer motivo, você se torna um nada por muito tempo. E podem acreditar, ser um nada é uma sensação absolutamente desesperadora que ninguém deveria experimentar. A insanidade está ali, bem ao seu lado, esperando apenas um descuido para se apoderar de você e controlar a sua vida. É preciso muita reconstrução, reavaliação e um penoso retorno para seguir vivendo.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

A nossa música

Conheço pessoas que tem muitas dúvidas se a pessoa com quem estão se relacionando é mesmo a pessoa certa. Os americanos tem até um termo para definir a procura: The One ou Mr. Right, dependendo do contexto. Eu tenho uma opinião sobre isso: se você tem dúvidas se a pessoa escolhida é mesmo a certa, é porque não é! Sim, você pode refletir bastante sobre alguém que escolheu para viver junto, pode fazer testes de convivência, pode até achar que uma relação morna é natural e o que o amor é mesmo modorrento, mas duradouro enquanto a paixão é explosiva, mas acaba rápido. Tudo isso é possível, mas quando encontrar mesmo um amor de verdade, não vai ter dúvida: depois de quinze minutos você já vai saber se é para valer ou não. As escolhas posteriores (e racionais) envolvem outras coisas e nenhuma delas está relacionada com o amor. Você pode ponderar se as afinidades são reais, se tem os mesmos gostos e os mesmos valores, se o relacionamento é economicamente estável e até mesmo as vantagens e desvantagens de um relacionamento, mas como já cantava Tina Turner, What's Love Got To Do With It? (O que o amor tem a ver com isso?). Na primeira vez que eu e o Sr. ficamos juntos, o efeito foi tão devastador que ficamos em silêncio durante um longo tempo, ouvindo a música O Pastor, de Madredeus como a trilha sonora que mudaria as nossas vidas. E mudou mesmo porque afinal, ninguém volta ao que já deixou...


domingo, 10 de julho de 2011

A caixa

Hoje, ao arrumar o armário, encontrei uma linda caixa que ganhei de presente de duas orientandas e amigas queridas, poucos meses antes do Sr. T partir. Vou chamá-las de Srtas M&M's porque o texto a seguir contém informações impróprias para menores de 18 anos (e maiores de 65 também, dependendo da condição cardíaca). A caixa é linda, em vários tons esverdeados e sugere um conteúdo com produtos clássicos, na linha O Boticário, Água de Cheiro e Natura. Lembro que abri o presente na hora e não entendi a razão das duas fazerem tanto mistério e o motivo de tantas risadinhas. As Srtas M&M sempre foram muito comportadas, do tipo que não costuma falar palavrão, fazer alusões sexuais ou contar piada pesada. Logo, eu não tinha motivos para achar que a caixa poderia conter mais do que sabonetes cheirosos, mas quando eu abri... As duas prepararam um super kit de primeiros socorros eróticos para salvar qualquer casamento da rotina, com uma camisola que não tapava nem o bico do peito, óleos massageadores, uma calcinha inacreditavelmente escandalosa e o que mais me chocou (não, não é o que vocês estão pensando...): um manual escrito por uma delas com instruções detalhadas de como eu deveria usar os apetrechos! Cheguei em casa com o presente, o Sr. T inspecionou o conteúdo demoradamente e não esboçou qualquer surpresa nem fez qualquer comentário sobre os produtos. Disse apenas que as meninas eram muito atenciosas e tinham, obviamente, mandado um presente para nós dois. Acho que se eu tivesse chegado em casa com uma caixa de brocas e parafusos, ele teria sido mais receptivo. Uma semana depois, subvertendo (e muito!) as orientações do manual de uso, todo o conteúdo da caixa já tinha sido testado e aprovado. Com louvor!

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Alguém tem que aprender uma lição

Por razões maternas (e absolutamente necessárias) que não cabem detalhar aqui, eu passei pela experiência de conviver com o meu ex-marido no mesmo espaço doméstico no ano passado. Ele se casou novamente e uma das coisas que mais me deixou chocada ao observar a convivência dele com a atual esposa, foi que ele não aprendeu nada! Eu fiquei surpresa e triste por ele porque acredito que ninguém deve passar por nenhum sofrimento em vão, é preciso (mesmo!) aprender com a experiência e tentar melhorar como pessoa, principalmente nos relacionamentos afetivos. Ao fim do meu conturbado casamento, eu busquei refletir sobre o que tinha dado errado e qual foi a minha contribuição no erro. Toda reflexão dessa natureza é muito dolorida e difícil, mas se eu não tivesse feito isso, dificilmente eu teria conseguido viver bem com o Sr. T. Foi o meu penoso aprendizado que me fez querer ser uma pessoa melhor e isso, sem dúvida, se refletiu na nossa relação. Observando o meu ex-marido, percebi que ele age, fala e se relaciona com a esposa da mesma forma que fazia comigo e isso é péssimo. Em um determinado momento, ele saiu da cozinha reclamando de alguma coisa e eu quase levantei para ir resolver o problema, até que me dei conta de que eu não tinha nada mais a ver com aquilo. Respirei aliviada e pensei no quanto a minha relação com o Sr. T era diferente do meu primeiro casamento e o quanto eu mudei (e melhorei) nos últimos anos. Nos momentos iniciais do meu casamento com Sr. T, eu chegava a provocar brigas por coisas que ele sequer tinha feito, mas eu reproduzia toda a neurose do meu casamento anterior. Foi um processo duro para superar a minha própria loucura e começar a construir algo completamente novo. Passei a não usar mais as palavras nunca (você nunca faz o que eu...) e sempre (você sempre age assim...). Hoje eu consigo me enxergar com facilidade e mesmo não dando conta de consertar todos os defeitos, tenho muita tranquilidade para lidar com eles. Se é verdade o ditado "o que não mata, fortalece", eu estou quase igual ao Incrível Hulk!

domingo, 3 de julho de 2011

Triturada, mas inteira

Eu tenho sido um completo fiasco nas datas marcantes, basta acontecer um evento que possibilite o download das lembranças e eu fico acuada no canto da parede, como qualquer menina de cinco anos. É claro que isso me irrita profundamente, ficar vulnerável não é uma sensação agradável para ninguém, mas a questão agora é o que vou fazer a respeito disso. Eu tenho muita sorte de ter pessoas que gostam de mim e realmente me dão um grande apoio, mas se tem uma coisa que descobri nessa história toda de morte, é que você tem que passar por tudo sozinha. Os amigos são bem vindos, o carinho é essencial, mas ninguém no mundo pode ficar no seu lugar. Ponto final. No fisl, espaço essencialmente do Sr. T, eu conheci muitas pessoas interessantes e sempre é doloroso demais falar com as pessoas que conheciam o Sr. T. Para essas pessoas, a morte também é um mistério insondável e elas não sabem bem como lidar comigo. Mas isso não é só no fisl, eu tenho uma vizinha que não pode me encontrar sem fazer perguntas e sempre é ela que acaba com os olhos cheios de água. Felizmente, eu a encontro muito pouco... Preciso de férias, mas não somente férias do trabalho, estou precisando de férias de mim mesma, das minhas angústias, da minha tristeza e, sobretudo, da minha própria teimosia. Toda vez que eu penso que estou voltando à normalidade, acontece alguma coisa para provar por A+B que ainda estou fragilizada demais para lidar com o mundo real. Então, eu volto para o meu canto na parede...

quinta-feira, 30 de junho de 2011

No espaço do Sr. T

Eu não costumo ligar muito para datas, mas é impossível não considerar o elemento cármico do dia de hoje. Um ano depois da partida do Sr. T, estou exatamente no lugar que sintetiza todo o trabalho nos últimos anos da vida dele: o Encontro Internacional de Software Livre, em Porto Alegre. O Sr. T esteve envolvido com a construção e implementação de programas governamentais de inclusão digital e participou de algumas edições do Fisl. Quando voltava para casa, ele fazia questão de contar em detalhes tudo o que viu, ouviu e as pessoas que conheceu (e que pensavam como ele). E como eu vim parar aqui, justamente hoje? Eu sou uma militante do software livre agregada, mas não trabalho especificamente com o tema. Ano passado eu participei do programa Um Computador por Aluno (UCA) e hoje tenho um orientando que está pesquisando o uso do SL na educação. Ele articulou a criação de uma mesa para discutir o uso do SL no UCA e me convidaram para participar da discussão. Na época, não percebi a coincidência da data e depois pensei que seria bom não estar em casa hoje. Infelizmente, parece que foi uma péssima ideia... Estou em POA massacrada pelas lembranças e apesar das coisas boas (telefonema de um bom amigo, conhecer a criadora do B.A.T.M.A.N e participar de uma verdadeira ebulição de ideias), o peso é muito maior do que eu pensava. O pior é que não é só a angústia emocional, estou embaixo das cobertas do hotel porque não tive coragem de entrar sozinha no espaço do evento, a última vez que consegui comer alguma coisa foi há mais de 20 horas e já chorei muito mais do que o necessário. Amanhã tenho dois compromissos de trabalho que vão me obrigar a me concentrar na apresentação, nas pessoas e esquecer essas bobagens do passado. Pelo menos, eu deveria....

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Força tarefa junina

Depois do fiasco que foi a última festa na escola de D. Maricota em maio, resolvi montar uma operação de guerra para a festa junina. Convoquei a família toda e garanti a presença de todos com a promessa de muita pamonha, milho, tapioca e mungunzá de graça. Antes que vocês pensem que eu sou generosa e façam um bom juízo de mim, a honestidade me obriga a contar que as festas na escola de D. Maricota são sempre assim. Eles cobram um taxa por aluno e você pode levar a família toda se quiser, até a terceira geração. No local da festa, a comida está disponível para todos e só as bebidas são vendidas. Mamãe que tinha ido na festa do meu sobrinho na semana anterior, ficou impressionada com a proposta da escola. Normalmente, as escolas cobram entrada por cada pessoa da família (um absurdo!) e cada um paga o que consumir na festa. Para completar a diversão, um mestre de cerimônias vestido de palhaço matuto organizava a preparação das danças dando bronca nas mães: - É só deixar as crianças com as professoras, por favor, deixem o espaço livre. Nossa, as mães não confiam nos professores! A senhora de branco que veio de camisola e está se fazendo de surda, pode se afastar? A pobre da mamãe que trabalhou em escola a vida toda e organizou trocentas festas juninas, se sentiu vingada dos pais inconvenientes e só resmungava: - Porque eu não contratei esse sujeito antes? Teria resolvido todos os meus problemas! Finalmente, chegou a hora da tão esperada dança de D. Maricota que sacudiu a saia compenetrada e rodopiou em cima do palco ao ritmo da música. Uma fofa! A festa foi um tributo ao grande mestre Luiz Gonzaga e todas as músicas dançadas pelas crianças eram dele. Nos intervalos entre uma dança e outra, os professores faziam uma performance no palco lendo textos poéticos que contavam a vida do grande Luiz Gonzaga. Depois das danças, cada criança recebeu uma bolsinha com fogos de artifício, o que foi a deixa para eu sair de fininho... Voltamos para casa com D. Maricota feliz da vida, prova concreta de que a ação da força tarefa foi um sucesso. Refletindo sobre a festa depois, percebi que não querer estar sozinha e pedir apoio aos outros, foi um passo importante para superar os medos. Mais um vencido!

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Crônicas de um feriado de São João

Depois de alguns anos morando em outra região, você já consegue ter uma ideia do seu nível de adaptação aos costumes locais se consegue vivenciar as festas como as outras pessoas. No meu caso, a minha adaptação é resistente e eu continuo assistindo ao espetáculo das festas juninas como uma estrangeira. Não consigo desejar "bom São João", não compro roupa nova para a data e se marcarem trabalho para o dia 24, não vou estranhar nem um pouco. Por outro lado, continuo achando o fim do mundo que as escolas tenham aula normalmente na quarta, quinta e sexta depois do carnaval! Hoje não pude deixar de lembrar do primeiro São João que passei aqui no nordeste com o Sr. T. Nós resolvemos viajar para o interior porque eu queria muito conhecer o vale dos dinossauros, em Souza. Ele conseguiu um pacote no Hotel Brejo das Freiras que fica em uma cidade próxima e fomos explorar o interior da Paraíba. A primeira coisa que me deixou chocada foi o calor que faz no interior, mesmo em pleno inverno. A paisagem muda rapidamente quando atravessamos o agreste e nos aproximamos do sertão nordestino. Enquanto o litoral é bastante semelhante aos outros Estados do sul do país, o interior apresenta uma paisagem tão diferente que é quase alienígena. Vegetação rasteira, seca, retorcida, os inselbergs imponentes e um sol de arrancar o couro. Fizemos uma viagem tranquila, mas acabamos nos atrasando e anoiteceu enquanto ainda estávamos na estrada. Eu comentei com Sr. T que só nós estávamos indo em direção ao interior, todos os carros cruzavam por nós em direção contrária. É sério, não tinha um carro na nossa frente ou atrás de nós, todo o movimento era na pista contrária! Achei estranho e comentei em voz alta o que eu estava pensando e ele respondeu: - Bom, pelo menos as pessoas estão vindo de algum lugar! O celular do Sr. T tocou e era o pessoal do hotel querendo saber se íamos demorar a chegar. Eu nunca soube de um hotel que ligasse para os seus prováveis hóspedes para saber em que lugar da estrada eles estavam... Pois eles ligaram várias vezes e ríamos feito loucos dentro do carro só de pensar que o hotel devia ser tão bom que nós éramos os únicos hóspedes deles! Quando chegamos próximo ao local, ficamos perdidos e o pessoal do hotel nem pestanejou: mandaram uma moça nos encontrar no meio do caminho e apontar a direção correta. Sim, eu nunca ouvi falar de um hotel... Quando nos aproximamos do cruzamento indicado pelo pessoal do hotel, vimos a tal moça sozinha na estrada, no meio do nada. - Como ela chegou até aqui? perguntei perplexa. Nós pensamos que ela voltaria conosco no carro, mas ela se recusou, indicou o caminho e disse que ficaria por ali. O Sr. T preocupado ainda insistiu, mas ela nem deu bola. Fomos na direção indicada pela moça preocupados e quando olhamos para trás, ela tinha desaparecido! Bom, a esta altura nós já tínhamos certeza absoluta de que estávamos indo em direção ao hotel fantasma, mas como o pacote já estava pago e a grana era curta, resolvemos encarar a vibe do filme "O Iluminado". Chegamos ao hotel (que antes era um convento), fomos muito bem tratados pelos funcionários cuja média de idade era 89 anos e passamos um fim de semana tranquilo com os nossos fantasminhas camaradas. Pelo menos não tentaram invadir o nosso quarto (que parecia mesmo um desconfortável quarto de freira) e nem devoraram os nossos cérebros. Foi uma viagem feliz como muitas outras que fizemos pelo interior e pretendíamos fazer muitas outras com D. Maricota. Ela hoje é louca por dinossauros e já pensei em viajar com ela até Souza. Pode ser que eu consiga fazer isso daqui a alguns anos, mas por enquanto, vou continuar lembrando daquela viagem como algo muito especial que não pode ser revivido, principalmente, pelo prazer enorme que era viajar com o Sr. T!

sábado, 18 de junho de 2011

Lições de vida com D. Maricota

Domingo passado, eu e D. Maricota planejamos ir ao cinema assistir Kung Fu Panda 2, em 3D. Ela adora filmes em 3D e apesar do peso no meu bolso, não posso deixar de reconhecer que ela aproveita cada minuto do filme e realmente se diverte (sem falar que ela fica engraçadíssima com aqueles óculos enoooormes). Infelizmente, eu não levei em consideração que era o dia dos namorados e o shopping estava lotado, com seguranças impedindo a entrada de carros no estacionamento. Ao ver o caos instalado, resolvi ir embora e marcar o cinema para o outro dia. O único problema foi contornar a frustração de uma criança de cinco anos que passou a semana inteira planejando o passeio: quando eu disse que iríamos embora ela começou a soluçar e ao invés de fazer a birra de sempre (para a qual eu já estava preparada), ela fez um discurso sobre a necessidade de persistência na vida! Isso mesmo, vocês não leram errado, ela disse literalmente o seguinte texto: - Mamãe, você desiste muito rápido, não pode desistir assim. Quando a criança não consegue alguma coisa, tem que tentar de novo até ela conseguir. Se a gente desiste, nunca vai conseguir fazer as coisas! Como vai aprender assim? Não me perguntem de onde saiu o texto, não sei se foi na escola ou em outra situação "educativa". Fiquei tão perplexa e chocada que embiquei o carro na rua paralela ao shopping e tentei um caminho alternativo pela entrada lateral. Consegui entrar e rapidamente encontrei uma vaga. Quando saí do carro, D. Maricota perguntou toda feliz da vida: - Mamãe, desta vez eu estava certa, não estava? Fui obrigada a concordar, prometi não desistir na próxima dificuldade e fizemos o nosso programa de domingo combinado. Depois de tudo que tenho passado, quem sou eu para discutir as dicas de autoajuda de uma menina de cinco anos?

terça-feira, 14 de junho de 2011

Um acontecimento estranho

O que vou contar a seguir foi presenciado por quatro pessoas e demorei alguns dias para escrever porque eu precisava me recuperar primeiro. Semana passada eu fiz uma viagem a trabalho e estava distante 3.000 km de casa. Visitei um dos pontos turísticos mais tradicionais do Rio de Janeiro, a Confeitaria Colombo, com várias alunas e uma professora amiga que trabalha comigo. Em um dado momento, a professora me perguntou se um homem que corria atrás de um garotinho fofo não parecia com o Sr. T. Eu olhei de relance para o homem de costas e dei uma risada porque ele tinha um cabelão estilo black power, usava uma bermuda camuflada e um casaco desconjuntado. Pensei que ela tinha achado o sujeito parecido com o Sr. T por causa do cabelo... O homem caminhou mais alguns passos, pegou o menino no colo e voltou em nossa direção. Naquele momento meu coração deu um salto e meu estômago se contraiu: o homem era igualzinho ao Sr. T! Cabelos, óculos, rosto, roupa e, principalmente, o olhar. Senti uma pressão no peito horrível, eu queria correr para ele e perguntar porque ele tinha ido embora e estava ali com aquela mulher e aquela criança. Sim, ele tinha uma mulher muito parecida comigo... Felizmente, o hemisfério racional do meu cérebro entrou em ação e eu tentava me lembrar do velório e do enterro, ele estava lá, eu tenho certeza! Dizia a minha parte racional enquanto a outra parte histérica dizia que eu não tinha chegado perto do corpo e não podia ter certeza, e se ele não estivesse morto? Tentei fazer cara de paisagem enquanto todas continuavam impressionadas com a semelhança (chegamos a tirar uma foto do sujeito que já estava ficando cabreiro com tantos olhares). Enquanto ele saía empurrando o carrinho do bebê, o pianista começou a tocar a música tema do filme "Em Algum Lugar do Passado" (informação devidamente registrada pelas minhas companheiras de mesa). Sim, seria uma coincidência comum encontrar alguém fisicamente parecido, mas o sujeito poderia estar vestindo um terno. Ou estar sozinho com um grupo de amigos. O que é inaceitável no universo paralelo das coincidências incríveis é uma pessoa semelhante à alguém que tinha uma aparência excêntrica, vestindo o mesmo tipo de roupa, com o mesmo cabelo e a mesma atitude carinhosa com uma criança! À noite, já deitada na cama do hotel, eu chorei muito e só pude pensar no quanto aquele encontro era cruel. A minha amiga, penalizada, me perguntou se não podia ser alguma mensagem para mim. Mal-humorada e ainda chocada com o que eu tinha visto, eu só pude concluir que se o que aconteceu foi algum tipo de mensagem, deveria ser para testar o quanto falta para eu cortar os pulsos!

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Maria Bonita

Enquanto ainda estava na minha barriga, D. Maricota era chamada por nós de Maria Bonita. A mãe do Sr. T chegou a bordar uma manta em ponto de cruz com o nome "Maria Bonita", mas o significado para nós estava voltado apenas para a beleza mesmo. Antes de viver no nordeste, eu acreditava que os cangaceiros eram considerados heróis pelo povo da região e fiquei surpresa quando descobri que o rei do cangaço é uma figura polêmica. Dependendo da cidade, eles podem ser vistos como heróis ou bandidos, apesar do artesanato local vender várias figuras dos cangaceiros como suvenir. Hoje eu estava lendo um artigo sobre o centenário do nascimento de Maria Bonita e descobri que ela viveu com Lampião praticamente o mesmo tempo que eu vivi com o Sr. T: menos de nove anos! Segundo o pesquisador e autor da biografia da rainha do cangaço, Maria Bonita era uma mulher corajosa, decidida, acima de tudo apaixonada pelo homem que ela decidiu seguir. É, queridos leitores, qualquer semelhança deve ser apenas mera coincidência...


# D. Maricota já está bem, a febre cedeu e desde domingo ela está se alimentando direitinho. Agora, é engordar novamente e tomar muita vitamina C para ficar mais resistente.

domingo, 5 de junho de 2011

Sushiman

Uma virose bem agressiva está deixando D. Maricota arriada em cima da cama desde a noite de quarta-feira. Estou lutando contra a febre alta, enjoos, garganta inflamada, nariz entupido e, como em todas as doenças, o quadro parece piorar de madrugada. Eu sei que é preciso esperar o ciclo da virose se completar, mas o que mais me preocupa é que ela não está comendo quase nada e como já é bem magrinha, tem perdido peso rápido nos últimos dias. Felizmente, eu a levei para almoçar na quarta no restaurante japonês preferido do Sr. T. Ela queria comer “arroz quadrado” que nada mais é do que o sushi de salmão grelhado com cream cheese e arroz. Eu sempre peço ao sushiman para preparar o “arroz quadrado” dela sem algas porque para uma criança o sabor é realmente muito marcante. Quase sempre eu sou muito bem atendida, mas há uns quinze dias atrás uma dupla nova estava no restaurante e o "sushiboy" se recusou a fazer o sushi sem alga, alegando ser impossível. Nem preciso dizer que fiquei passada e acabei levando D. Maricota para comer (arhg!) sanduíche. Na quarta-feira, o nosso sushiman de verdade estava lá e preparou um prato maravilhoso para D. Maricota com morangos lindos como enfeite. Acredito que o pessoal de apoio deve ter contado o que aconteceu para ele porque além de preparar o prato com cuidado, ele fez questão de não cobrar. Bom, se foi só uma coincidência e ninguém disse nada, eu fiz questão de contar que não tinha sido bem atendida da última vez que estive lá. D. Maricota ficou tão encantada com o prato que comeu tudinho e ainda pediu para tirar uma foto. No final da tarde, ela já estava ardendo em febre, mas com a barriguinha cheia de comida saudável. Arigatô, sushiman!

terça-feira, 31 de maio de 2011

O legado em cada um de nós

Em todos os conflitos do cotidiano, o Sr. T sempre teve uma atitude pacificadora, mesmo quando a questão não envolvia a nossa relação. Em alguns momentos da minha vida, eu chegava do trabalho cuspindo marimbondos e escorpiões e ele nunca teve uma atitude incendiária, pelo contrário! O Sr. T sempre tentava ver o outro lado da questão, considerando os aspectos da fraqueza humana, os mal entendidos e até mesmo os elementos espirituais da questão. Perdi a conta de quantas vezes fiquei amuada por não encontrar eco nos meus acessos de fúria assassina, mas ele não foi sempre assim. Durante a nossa convivência eu descobri que ele tinha assumido várias brigas antes de me conhecer, algumas até insanas. Eu vou contar em outro post mais tarde os detalhes, mas a construção de um grande supermercado em João Pessoa, por exemplo, foi resultado da luta do Sr. T. Quando eu lembrava o seu passado de luta, ele respondia calmamente: por isso mesmo eu posso dizer que não vale a pena! Ontem eu participei de uma reunião complicada no trabalho, com pessoas queridas que precisavam tomar uma difícil decisão. Todas as minhas palavras na reunião buscavam a ponderação e a conciliação. Na volta para casa, vim chorando de mansinho porque percebi que uma parte do Sr. T ficou dentro do meu coração. Certa vez, o Sr. T me disse que o meu maior defeito era a ira, que eu precisava aprender a controlar os meus acessos de raiva. Depois da reunião, eu tive certeza de que o legado do Sr. T vive em várias coisas, mas - principalmente - no coração de cada um de nós.

domingo, 29 de maio de 2011

Diretor de palco

Eu gostava muito de ouvir as histórias do Sr. T de quando ele era diretor de palco do Teatro Castro Alves, em Salvador. Eu não o conhecia nessa época e ele contava tantas histórias interessantes que eu era capaz de ouvir horas o mesmo assunto. Eu sempre pedia para ele contar de novo as minhas histórias preferidas como, por exemplo, quando ele conheceu o Paulo Autran, as exigências e chatices dos atores, os grandes espetáculos... Foi com o Sr. T que eu aprendi o que é um palco italiano, que os grandes teatros tem vários andares abaixo do palco, que existem cofres tão grandes que cabem um cenário inteiro nos teatros e são muito usados para guardar os figurinos completos dos balés (são caríssimos), que existem elevadores para transportar elefantes como o da ópera Aída (meu Deus, eu não sabia que usavam elefantes de verdade dentro de teatros fechados) e que os bailarinos comem muito por causa do esforço da dança. Rá! Tenho certeza que vocês também não sabiam dessas coisas... Uma das minhas histórias favoritas é sobre o show da Maria Bethânia que costuma atrair tantas fãs, digamos, ardorosas, que o teatro fazia uma concessão especial para que ela entrasse pela lateral dentro do carro até a entrada para o camarim. O Sr. T disse que um grupo de fãs (emocionadíssimas!) ficava próximo ao palco com dúzias de rosas na mão que eram jogadas no palco durante o show, acompanhadas de gritos histéricos (maravilhosa, vitaminada, divina, poderosa...). Pouco tempo depois de um show da Maria Bethânia com lotação esgotada, Marisa Monte (em início de carreira) fez a mesma exigência: queria entrar pela lateral para não ser assediada pelos fãs. Ah, coitada, a direção do teatro disse um sonoro não-minha-filha-vai-se-catar-e-se-enxerga! Tem como não sentir falta de tantas histórias divertidas?

sábado, 21 de maio de 2011

Alta Fidelidade

Um dia desses eu estava conversando com um amigo sobre o conceito filosófico de fidelidade. É um assunto espinhoso porque envolve as questões impostas pela sociedade que estão relacionadas com o controle e o desejo (e o direito) individual de cada um de nós em ser feliz. A busca pela felicidade só é simples nos filmes românticos do tipo água com açúcar, a realidade é muito diferente. Em sua essência, quando sentimos desejo por outra pessoa, a infidelidade já aconteceu. Como é impossível controlar o desejo de qualquer ser humano, as convenções foram criadas: só é infidelidade quando acontece o contato físico, quase estabelece um relacionamento etc e tal. A web está bagunçando bastante os modelos de fidelidade adotados até agora, já que é possível obter prazer em relações virtuais sem nunca ter encontrado a outra metade pessoalmente. :) O fato é que eu tenho uma visão muito particular sobre o tema, acredito mesmo que cada casal deve negociar os seus próprios limites, independente das convenções sociais. Além disso, existem vários outros fatores que envolvem a (in)fidelidade que precisam ser considerados em cada relação (carência, ressentimento, fraqueza, vingança, insatisfação etc). Apesar da minha posição liberal a favor da livre negociação, não existia muita opção em meu relacionamento com o Sr. T. Eu queria exclusividade absoluta, não apenas no aspecto físico, mas também mental e até transcendental! Nós conversávamos bastante sobre isso e, estranhamente, a minha relação de fidelidade com ele nunca foi uma imposição. Durante todo o tempo em que estivemos juntos, nunca me senti atraída por ninguém que valesse a pena mais do que um sorriso de dez segundos. Talvez esse quadro mudasse com o tempo e nós teríamos renegociado as bases de nossa relação. Ou talvez o Sr. T estaria trancado em um quarto escuro, amordaçado com fita Silver Tape até hoje. Quem pode saber?

terça-feira, 17 de maio de 2011

Sonhos roubados

Ser criança significa ter o futuro pela frente e todos nós já construímos castelos no ar. Eu sonhava em ser bailarina, professora, cientista, feiticeira e exploradora (é incrível como as crianças só pensam em coisas legais, criança que diz que quer ser milionário quando crescer está reproduzindo as conversas dos adultos). Considerando o alto nível de imaginação de uma criança, a minha realidade de adulta não foi tão ruim assim, pois consegui ser pelo menos uma das opções dos meus sonhos. Quando você entra para a faculdade, várias profissões idealizadas quando criança são descartadas. Não dá para ser advogado/bombeiro ou médico/astronauta. Bom, já na faculdade com vinte e poucos anos, você sonha em ser o tampa da profissão, imagina uma carreira de sucesso e que será uma referência na área (daí a realidade do estágio na qual várias pessoas gritam com você e te chamam de tapada o dia inteiro faz você cair na real). Mas tudo bem, se não deu para ser o super profissional do século, ainda resta o sonho de encontrar o príncipe encantado. Dez anos depois, o príncipe virou sapo e com um pouco mais de condições de enfrentar o mercado de trabalho, você vai à luta. Afinal, está com trinta e poucos anos e todo mundo sabe que as balzaquianas são um arraso profissionalmente e sexualmente (uau!). Algum tempo depois você continua dando o sangue no trabalho, subindo na carreira e encontra um novo amor. Legal, já é mesmo tempo de se acomodar, se dedicar ao verdadeiro amor e aproveitar mais a vida. Segundo casamento, filhos, novos lugares e novos empregos. Você começa agora a sonhar com o futuro para colher os frutos do trabalho, imagina uma aposentadoria tranquila com um restaurante riponga em Pipa. Já escolheu o lugar, o menu e a decoração. Está só esperando o tempo passar, terminar de contribuir com a p*&# da previdência para, finalmente, aproveitar a vida. No interlúdio, você acorda um dia e está sozinha. Já tem mais de quarenta anos e já não sabe mais o que sonhar. Já foram tantos sonhos roubados que fica difícil construir os castelos de novo. Bate o desânimo e você descobre que fez uma opção errada quando era criança, se tivesse escolhido corretamente, todo o resto poderia ser consertado. Afinal, por que não escolheu ser feiticeira? Calma, nem tudo está perdido! Sabe-se lá se ainda dá tempo...

domingo, 15 de maio de 2011

Diálogos

Eu imagino que quem estrutura um relacionamento na base da dependência deve sofrer muito quando está sozinho. O processo de recuperação da autonomia não é mesmo fácil, implica em cortar os laços de dependência, descobrir-se novamente como pessoa, se reestruturar e só depois conquistar a autonomia. Considerando esta lógica, deveria ser mais fácil sair de um relacionamento estruturado sobre o compartilhamento. Aqui reside um engano. Quando você estabelece uma relação de dependência, sente falta do que o outro proporcionava. Na relação de passividade, é a falta de alguém que era responsável por cuidar de nós. Não é uma relação de mão dupla, existe apenas a necessidade de suprir, e, de fato, deve ser um duro golpe quando se perde o provedor. Porém, na relação na qual se compartilha, existe um movimento duplo, as ações vão e vem na mesma proporção. Assim, quando se perde a outra parte, não se perde apenas aquilo que se recebe do outro, mas também o que se proporciona. No meu caso, a maior perda é o diálogo. Através de intermináveis conversas, as nossas trocas eram construídas, a palavra (escrita ou falada) era a nossa ferramenta para dividir, trocar, acrescentar e crescer. O mais curioso é que na minha relação com o Sr. T nenhum de nós dois era de tagarelar muito ou descrever detalhes intermináveis. Normalmente, eu contava alguma coisa, relatava as minhas impressões e ele encerrava a análise com um comentário curto. Isso não acontecia por falta de sintonia ou comunicação, pelo contrário! Era justamente por entendermos perfeitamente as necessidades do outro que as palavras não precisavam ser inteiras. Bastava uma síntese e um olhar para todo o resto ser esclarecido. Afinal, o que é o amor senão compreensão?

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Então, fazemos biscoitos!

A semana foi pauleira, uma sombra vinda de Mordor (Tolkien) se apoderou de nós e ficamos um fiapo de gente. Para dizer a verdade, não sei se eu fico arrasada quando D. Maricota desmonta no seu choro convulsivo antes de dormir com saudades do pai ou se ela fica triste porque percebe a minha tristeza. O fato é que nós duas andamos muito tristonhas e só hoje a nuvem começou a se dissipar. Diante de um quadro tão deprê, o que fazemos? Biscoitos! Colocamos a mão na massa (literalmente), misturamos a farinha, a manteiga e o açúcar. Cortamos os biscoitos em formatos fofos - coração, lua, estrela, beijo - e ficamos vigiando o forno até que eles ficaram dourados e deliciosos. Quase perdemos a hora da escola, almoçamos sopa requentada, mas o sorriso e o orgulho dela ao levar os biscoitos para a "tia" da escola fizeram todo o esforço valer a pena! Catei na internet mais de dez receitas diferentes de biscoitos e agora tenho um arsenal antideprê até o final do ano. Agora vocês já sabem, bateu a depressão? Assem biscoitos, meus lindos e mandem qualquer desequilíbrio espiritual/emocional para o raio que o parta!

domingo, 8 de maio de 2011

Dia das mães

Sexta-feira foi a festa da família na escola de D. Maricota. A escola não chama de dias das mães para não trabalhar na perspectiva da família padrão, mas no fundo o objetivo era esse mesmo. A festa foi a inauguração de uma vernissage com os trabalhos das crianças. Segundo D. Maricota, eles tinham uma música bem linda para cantar para as mães. O primeiro problema: eu tinha aula no horário, mas como as chuvas de Recife estão provocando o caos na cidade, a aula foi cancelada e pude vir para casa mais cedo. O segundo problema: o local. Eu não conhecia o lugar onde seria realizada a festa e apelei para o Google Maps e o GPS. Ambos funcionaram perfeitamente, mas quando nós chegamos ao local... Não tinha lugar para estacionar e fui obrigada a dar várias voltas no quarteirão. D. Maricota acabou dormindo no carro e o bairro é pouco recomendável, principalmente de noite. Consegui parar no lugar mais próximo, peguei D. Maricota no colo e praticamente corri pelas ruas até o local da festa. Quando entramos, ela empacou e disse baixinho: - Mamãe, é aqui que eu vinha com papai muitas vezes! Ele sempre me trazia aqui! Só então eu me dei conta que o tal lugar ficava ao lado da Casa Brasil do IFET, uma das unidades que ele coordenou durante três anos. O prédio da festa era um local de artes e exposições da Universidade, como ex-professor e da área, obviamente ele teria passado ali várias vezes com ela. Nem preciso dizer que a noite acabou para nós duas. Ela não quis mais sair do meu colo e assisti a peça que estava sendo apresentada com ela agarrada no meu pescoço. A inauguração da vernissage terminava com um coquetel, mas ela não quis comer nada (nem eu). Resolvi vir embora mais cedo com a certeza de que não deveria ter ido. Não é aconselhável para ninguém mexer na ferida que ainda não está completamente cicatrizada...