quarta-feira, 27 de julho de 2011

Quando eu me "destornei"

A minha relação com o Sr. T nunca foi restrita apenas ao plano afetivo de um relacionamento comum. Sem dúvida, é sempre o amor que nos move, mas antes de ser capaz de amar, é preciso ser. Quando eu era adolescente, fiquei apaixonada pelo livro "Uma aprendizagem, ou o livro dos prazeres" da Clarice Lispector, mas eu não entendia o processo que ela descrevia e a necessidade de autoconhecimento como condição prévia para viver um relacionamento pleno. Eu acreditei durante muitos anos que o casamento (e o amor) exige sacrifícios, perdas, concessões, coisas que são um preço a pagar pela estabilidade, companheirismo, cumplicidade e conhecimento mútuo. Quando você acredita nisso, morre todos os dias e tem a mais absoluta certeza de que é feliz. O Sr. T era uma pessoa intensa e não aceitou desde o começo as minhas ponderações. Assim como o Ulisses de Uma aprendizagem..., ele disse que só me queria se eu fosse inteira e para ser inteira, eu teria que pular da ponte. Eu resisti durante meses, fugi, briguei, terminei, voltei, manipulei... E ele lá, impassível e irredutível. Foi aí que eu me "destornei", mudei pelo avesso as minhas concepções de mundo e as minhas percepções da vida. Eu simplesmente escolhi ser feliz e acreditem, é preciso coragem para ser feliz porque vivemos em uma sociedade que nos diz que sofrer é privilégio (ou que você só pode alcançar a felicidade adquirindo coisas). Depois da morte do Sr. T, eu passei meses tentando me reencontrar e no meio de tantos medos, eu não queria voltar ao antes. Hoje, na minha relação com as pessoas, eu as vejo com as suas convicções e medos, morrendo um pouco todos os dias, exatamente como eu era e percebo, aliviada, que eu não retornei ao ponto de partida. O meu "destornar" é irreversível...

2 comentários:

  1. Tudo é irreversível... pela 2 Lei da Termodinâmica (http://pt.wikipedia.org/wiki/Segunda_lei_da_termodin%C3%A2mica) :-)

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  2. Sim, e é uma pena que algumas escolhas também sejam irreversíveis... :)

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