quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Diálogos surreais

Diálogo 1

- Você não sabe quem eu encontrei na rua, lembra daquela minha amiga da faculdade que casou com um belga?

- Lembro sim. Como ela está?

- Está ótima, os filhos estavam com ela. Uns fofos!

- Ela perguntou por mim?

- Perguntou por você? Como assim? Ela nem conhece você!

- Ah, mas ela podia ter perguntado por mim...

- Hã? Ela é MINHA amiga, eu não a vejo faz quase dez anos e ela deveria perguntar por VOCÊ? Você não acha que isso é ser muito egocêntrico?

- Não vejo nada demais nisso...

Diálogo 2

- Acabei de ser assaltada no ônibus, levaram meu relógio e minha aliança!

- Nossa que violência! Eles roubaram mais alguém?

- Sim, outras duas pessoas. Não sei mais como vou andar na rua, eu vivo com medo, fico suando frio quando entro no ônibus... (pausa para um choro comprido).

- Olha, fica calma, eu também sofro isso todos os dias. Você não sabe como eu ando tenso!

- Você? Tenso? Mas você só anda de carro, nem me lembro da última vez que você entrou em um ônibus!

- Ah, você nem sabe, a violência está em todos os lugares... Quando eu paro no sinal, fico logo tenso olhando para os lados!

- Você está querendo dizer que andando de carro, com os vidros fechados, no ar-condicionado, sofre a mesma angústia que eu que sou mulher e ando a pé e de ônibus, muitas vezes tarde da noite?!?

- Você não entende, eu sofro tanto quanto você!

-Dai-me paciência, Senhor...

Diálogo 3

- A sua filha está sofrendo com a perda do pai, mas pelo menos a situação está resolvida. As minhas é que sofrem com o pai problemático...

- Como?!?

- É, a sua pelo menos sabe que o pai não vai voltar, mas as minhas, coitadas, nunca sabem quando o pai vai aparecer.

- Você está dizendo que é melhor o pai morto do que um pai instável, mas que está vivo e pode ser encontrado quando elas quiserem? É isso mesmo?

- Menina, você nem sabe o sofrimento das minhas filhas. Você acredita que ele mandou um cartão de presente de Natal?

- Ô... Imagino quanto sofrimento...

Diálogo 4

- Ele não podia ter me abandonado, eu vivi para ele e para a casa a vida toda!

- É... Ele disse que tentou conversar com você várias vezes e que você não quis ouvir.

- É, mas ele devia ter me sacudido! Me obrigado a escutar! Ele tinha que ter me obrigado a ir ao médico, eu estava deprimida!

- Ele disse que estava doente, perdia sangue quando ia ao banheiro...

- Isso é verdade! Um absurdo de sangue!

- E você não achou que ele estava doente? Não ficou preocupada? Pode ser algo sério, pode ser um câncer...

- E você queria que eu fizesse o quê? Arrastasse ele para o médico?

- Mas você acabou de dizer que ele tinha que ter sacudido você, que tinha que ter levado você ao médico... Só vale para um lado, é isso?

- Não é isso, é que ahun... anhhh...

- Não entendi.

- Você não sabe o que eu passei!

- Ah, tá.