sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Lancelote, de Chrétien de Troyes (3)

Nesse prazer amoroso, experimentam tanta felicidade que vem dos beijos e de toda a festa dos sentidos que eles se sentem invadidos por uma alegria prodigiosa. Nunca se ouviu falar de uma maravilha igual. Mas é melhor que eu me cale sobre isso. Toda história deve respeitá-la pelo silêncio. A maior e mais deleitosa das alegrias foi aquela que a nossa história pretende conservar secreta. Lancelote passou toda a noite naquele deleite. Mas chegou o dia, inimigo da sua alegria, pois ele tem que sair de perto de sua amiga. E parecia um mártir, pois separar-se dela era um suplício. Seu coração insiste em voltar para o lugar em que a rainha ficou. Ele não tem forças para controlá-lo. Aquele coração está muito enfeitiçado para consentir em abandonar a rainha. O corpo vai, mas o coração permanece.

Troyes, C. Lancelote, o cavaleiro da carreta. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1994.

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