domingo, 24 de junho de 2012

A resposta de Elizabeth

- Em casos como este creio que é costume estabelecido exprimir a nossa gratidão pelos sentimentos que nos são confessados, embora esses sentimentos não possam ser retribuídos. É natural que essa gratidão seja sentida. E se a experimentasse agora eu lhe agradeceria.Mas não posso desejar e nunca desejei a sua boa opinião, e aliás o senhor a confere a mim contra a sua vontade. Sinto muito ter de causar decepção a qualquer pessoa, não o faço de propósito, entretanto eu espero que ela seja de curta duração. Os sentimentos que, segundo o senhor me disse, o impediram durante muito tempo de reconhecer a sua afeição, irão socorrê-lo facilmente depois da presente explicação.

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Orgulho e Preconceito é um dos meus livros favoritos, eu adoro a mudança interna que o casal protagonista precisa fazer para alcançar o seu final feliz. É um livro com muitas matizes, mas eu fiz questão de transcrever as passagens que relatam a censura mútua ao comportamento dos dois porque acredito que o que acontece no livro é atemporal. Elizabeth e Darcy não são vítimas de um plano arquitetado por outra pessoa para separá-los (o relacionamento dos dois é desconhecido dos outros personagens até as páginas finais). Eles são vítimas de si mesmos, dos seus preconceitos, suposições e enganos. Entre outras razões, ela recusa o seu pedido de casamento porque ele afirma amá-la contra as suas convicções, contra a sua razão e contra a sua própria vontade. Eu duvido muito que o amor de Darcy e Elizabeth pudesse ser resolvido com a mesma facilidade retratada no livro, o ponto de ruptura dos dois é grande demais. A autora encontra a solução punindo ambos por seu comportamento e a partir da humilhação e sofrimento, eles conseguem superar as suas próprias fraquezas e concretizar o seu amor. O livro foi publicado em 1813 e, embora retrate uma sociedade que não existe mais, as impossibilidades de Elizabeth e Darcy acontecem todos os dias, em vários relacionamentos. Quantas vezes não perdemos a chance de viver uma história de amor porque fomos escravos do nosso orgulho, da nossa arrogância ou dos nossos próprios conflitos? Em quantos momentos da vida não deixamos algo importante para trás porque não relativizamos a história do outro e não nos descolamos da nossa própria história? Sei que as relações humanas são complexas, que é impossível retirar o contexto no qual estamos inseridos, mas eu gosto de pensar que poderíamos viver as nossas histórias de amor apenas fechando os olhos e fazendo a seguinte pergunta: o que o seu coração realmente sente?

2 comentários:

  1. Seria a melhor opção, fechar os olhos e seguir o coração... mas somos tão racionais!!!

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  2. E o mais surpreendente é que a nossa racionalidade é quase sempre a razão de nossa infelicidade! Bjs

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