segunda-feira, 3 de novembro de 2014

As histórias de amor da vida

Por que será que estamos sempre prontos para procurar uma linda história de amor nos filmes, nos livros ou na vida dos outros, menos na nossa? Convivemos ao longo da vida com casais interessantes que tem uma história de luta, dedicação e comprometimento, mas não nos damos conta do quanto isso pode ser poético e romântico. Muitas vezes nem mesmo a dupla envolvida percebe que a sua história é especial e que pode servir de inspiração para muitas pessoas. Eu conheço vários casos assim, a minha mãe foi casada com o Baba por 25 anos e aproveitaram a vida com tanta intensidade que chegava a ser irritante! Viajavam juntos acampando em várias cidades, frequentavam e ofereciam grandes festas, viviam com a casa cheia de gente e estavam sempre prontos para a diversão. Acreditem, podia ser enlouquecedor em alguns momentos... Não sei se eles tiveram clareza da importância do seu amor enquanto estiveram juntos, sei apenas que a minha mãe se deu conta disso depois que ele morreu. Uma das histórias deles é sobre uma vizinha antipática de quem a minha mãe não gostava. O Baba tinha a péssima mania de gritar com os cachorros da casa, especialmente com uma vira-lata agitadíssima chamada Cidinha. Ele berrava com Cidinha pelo quintal coisas como "sua cretina, aprontou de novo, eu vou te matar, você me paga" etc. Ele fazia um barulho enorme, mas nunca bateu nos cachorros de verdade. Nós já estávamos acostumadas com esse teatro, mas nunca pensamos se os vizinhos pensariam diferente. Um belo dia, mamãe estava tranquilamente aproveitando o fim de semana na praia quando a vizinha se aproximou e, com uma expressão de pesar, disse para minha mãe que era solidária e que se ela quisesse ajudaria mamãe a denunciar o marido violento. A surpresa da minha mãe foi indescritível e ela explicou que o escândalo era com as criaturas caninas e não com ela. Óbvio que a minha mãe teve certeza de que a vizinha já tinha espalhado para o bairro inteiro que a minha mãe era maltratada pelo marido. Com sangue nos olhos, ela voltou para casa e aconteceu um rebu maior ainda do que o de costume no quintal: era minha mãe quase assassinando o pobre Baba por causa da vergonha que passou na frente do seu desafeto. Tenho absoluta certeza de que naquele dia os vizinhos cogitaram chamar a polícia, não por causa dela, mas para salvar o pobre Baba!

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