segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

É preciso acreditar nos vivos

Alguns livros sobre a doutrina espírita destacam que o sofrimento das pessoas que desencarnam não está necessariamente relacionado com a morte em si, mas com a angústia que alguns desencarnados sentem com a separação dos seus entes queridos. A angústia vem da incerteza de que os vivos continuarão bem apesar da ausência da pessoa que partiu. Aprendi desde cedo que o sofrimento dos que ficam é muito mais pernicioso para os desencarnados do que lidar com a sua própria condição. Uma das situações mais tristes que vivi foi quando a minha filha, com apenas 4 anos, passou horas no quarto chorando e gritando sem parar "papai, papai, papai"... O sofrimento nesse momento foi algo tão dolorido que é impossível traduzir, eu sabia que a condição histérica dela passaria logo e que no dia seguinte ela nem se lembraria daquele momento, mas eu pressentia o quanto poderia ser angustiante para alguém que desencarnou tão rapidamente e era tão apegado à filha, ser chamado incessantemente por horas. Talvez tenha sido um dos poucos momentos na minha vida em que a tristeza me paralisou e me tornou fraca e impotente. Por isso mesmo faço um exercício diário para aceitar que cada um precisa passar por seus próprios percalços e viver sua própria história. O que nos cabe durante esse percurso é ser um bálsamo, um ponto de apoio e consolo para quem precisa, nos momentos em que for necessário. Impedir que o outro, seja uma criança ou um adulto, não vivencie as experiências que possibilitarão o seu crescimento e evolução espiritual, tem o efeito exatamente inverso: não conforta, não ajuda, não melhora, apenas prejudica e enfraquece aquele que pensamos estar protegendo. É preciso acreditar no outro e aceitar que cada um é responsável por suas próprias escolhas e, principalmente, é preciso ter clareza de que ninguém nesse mundo pode nos prejudicar além de nós mesmos.

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