domingo, 8 de março de 2015

A vida que eu não vivi

Conheço duas mulheres que estão se aproximando dos 70 anos e cada uma lida com o seu momento atual de forma diferente. Uma considera que sua trajetória se não foi ideal, foi satisfatória e já começa a contar o tempo que tem hoje como um bônus da vida. Esconde a sua frustração na diversão e busca minimizar o sofrimento do passado com a certeza de ter aproveitado os bons momentos que a vida proporcionou, não há lugar para arrependimentos. A outra é inconformada com a sua história e com os desdobramentos dela. Viveu para a família e isso foi tirado dela de alguma forma. O pouco que sobrou não é suficiente ou não se compara ao que ela teve um dia e isso afeta a sua percepção do presente. As duas não foram felizes e penso que a grande diferença entre elas está na forma como elas acomodaram a sua tristeza: uma a acolheu filosoficamente e acomodou os seus sentimentos ao que foi possível construir, a outra transformou a sua tristeza em um fardo tão terrível que ele já ameaça a sua saúde e sua sanidade. O fato é que beirando os 70 anos, não existe mais uma possibilidade de recomeço, de novas tentativas, de reescrever a sua história. A história está em muitos aspectos concluída e os espaços para um futuro diferente ou uma esperança morna são cada vez mais escassos. Descubro agora que esse é verdadeiro terror ao envelhecer, não existe mais uma vida pela frente! Como o futuro é mais do mesmo, somos obrigados a olhar para trás, lamentar pelos erros e nos gabar das nossas realizações. Porém, se temos muitas frustrações, contas que não foram acertadas, perdas irremediáveis e nenhuma lembrança que nos traga felicidade, a existência pode se tornar insuportável e pouco pode ser feito. O desapego do passado e das vidas que não vivemos é um exercício fundamental para encontrar a paz e a tranquilidade. Afinal, se não é possível mudar o passado, podemos pelo menos escolher a melhor forma de conviver com ele no presente e no futuro.

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