terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Um homem bonitão

Ao comentar no outro post sobre o Sr. T ser bonitão, eu me lembrei de uma história ótima. Duas vezes por semana, eu trabalhava em uma empresa do sistema S e um dos pressupostos da empresa é que todo mundo deve estar enquadrado em único padrão de beleza, a tal da “boa aparência”. No nosso país a boa aparência significa ser branco, andar de terno, ter dentes perfeitos etc. e quem usa usa tranças rastafari, calças camufladas e cara de revolucionário cubano, definitivamente, não está dentro do padrão. O Sr. T foi me buscar como fazia sempre, mas como meu celular estava descarregado, ele entrou na empresa pela primeira vez e pediu para me chamarem. A secretária era uma moça muito novinha, um doce de pessoa, mas que já estava devidamente enquadrada nos pressupostos da “boa aparência”. Eu estava na sala de reunião quando ela entrou com olhos arregalados e a boca tão aberta que caberia um ovo: - Professora, tem um homem procurando pela senhora! O tom era de espanto mesmo e na hora eu percebi o que estava acontecendo: - Um homem? É meu marido? Obviamente, ela não podia acreditar que fosse e ficou muito embaraçada em ter que responder. - Não, acho que não... Ele disse que a senhora estava esperando por ele. Ela parecia ter certeza de que o homem era uma ameça e que não me conhecia. Fiz um esforço para não rir, outras pessoas estavam na sala e respondi muito séria: - Olha, fulana, meu marido é um homem lindo! Não tem como errar! O homem que está aí é bonitão? A pobrezinha, torcia as mãos nervosa, sem saber o que responder. - Ahnnn... não sei dizer, professora. Eu, ahn... Dei o golpe de misericórdia: - Por favor, vá até lá e olhe de novo. Se for um homem bem bonitão pode mandar entrar que é meu marido. Se não for, diga para ir embora que eu não conheço e não estou esperando ninguém! Vocês acreditam que foi só nesse momento que caiu a ficha e ela percebeu que eu estava fazendo uma crítica light ao preconceito dela? Sem graça, ela começou a rir e concluiu: - Bom, professora, eu vou mandar ele entrar. Pensando bem, ele é bonito sim... Desde aquele dia, ela sempre perguntava pelo meu marido bonitão e ria constrangida quando se lembrava do que tinha acontecido. Semana passada eu recebi um e-mail lindinho dela, querendo saber como eu estava e torcendo para que tudo ficasse bem. É muito bom quando podemos mostrar o outro lado da moeda e conquistar o carinho e o respeito das pessoas.

2 comentários:

  1. Ana!
    Que ideia e que modo lindo de escrever tua história! Tua garotinha terá um belo legado para quando for mais velha e começar a pensar sobre suas origens, seu papi...
    A história mexeu comigo, me identifiquei pelas perdas e me emocionei ao pensar que passe o tempo que for, entrem novas pessoas em nossas vidas, mas 'aquelas' especiais, compõem nossa história e carregamos um pouquinho delas na gente, sempre terão um lugar muito especial e lindo em nosso coração, dentre as mais belas lembranças!
    []s e tudo de melhor para ti e tua menininha! :)

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  2. Pois é, Paula, foi o modo que encontrei para registrar as minhas lembranças e amenizar a minha angústia. Eu fico feliz em saber que as pessoas gostam da nossa história. Obrigada pelas palavras generosas!

    Abraços,

    Ana

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