sábado, 14 de agosto de 2010

Hora de partir

Parece um clichê, mas é verdade, um dia você está fazendo planos, rindo, conversando e, no outro, tudo acabou. Sem possibilidade de argumentação, reclamações ou revisão. Não dá tempo para nada, só em filme americano as pessoas conseguem se despedir, pedir perdão, contar o segredo revelador... Não é assim na vida real, aqui não deixam você ver seu marido (mesmo que ele esteja piorando), não existe compaixão ou solidariedade. Quer dizer, existe sim, mas só depois da morte, quando já não adianta mais nada... Eu sempre penso em todos os cenários possíveis na minha vida com caminhos alternativos, mas nunca pensei nesta possibilidade. Revendo a nossa história, posso dizer que não era para terminar assim (ou, pelo menos, não devia terminar assim). Tentamos fazer um funeral discreto, com velório em João Pessoa e enterro rápido, mas foi impossível (tentamos vírgula, eu não tive condições sequer de pensar na palavra enterro). A notícia foi divulgada nas rádios, colocaram carro de som nas ruas e tudo fugiu ao controle. O velório foi no teatro da cidade, alunos e professores viajaram de Campina Grande para prestar uma última homenagem. E que homenagem! Meninos e meninas com 15 anos, abalados, tristes, que fizeram questão de se despedir do professor. Toda a tortura e o peso do momento se dissolveram nas palavras daqueles meninos, no discurso do Diretor de Ensino do IFET e na bela música cantada pela professora de Matemática que trouxe de suas raízes judias um belo poema para fazer a sua homenagem. O maior estresse, além de ouvir e ver pessoas indesejadas, foi a pressão para levar a minha filha ao enterro. Céus, ela não tem cinco anos ainda! Mais uma vez percebo o choque de culturas, aqui a presença de crianças nos enterros é uma prática comum e as pessoas insistiam que se ela não visse o pai iria ter problemas terríveis pensando que foi abandonada. Desde o primeiro momento em que conversei com ela, na mesma hora ela compreendeu que não o veria mais e chorou copiosamente até dormir.Sinceramente, não acredito que materializar uma cena tão terrível a ajudaria em alguma coisa. No meio do caos, ainda é preciso respeitar a crença dos outros e ser firme para que os outros respeitem a sua. Firme, enquanto tudo dentro de você parece desmoronar... Ao final de tudo, a tarefa mais difícil: voltar para casa e enfrentar a ausência e o vazio. O mais surpreendente é que seguimos vivendo, respirando, andando, comendo, porque não há mais o que fazer, é preciso viver.

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