quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

O canto da sereia

Eu conheci o Sr. T em uma reunião de trabalho. Eu estava representando a minha empresa que ficava no Rio e meu papel naquele dia era apresentar os cursos da Educação Básica para adultos que utilizavam sites como apoio. Eu já tinha feito a mesma coisa várias vezes, em grandes empresas e em diferentes lugares. Nunca tinha vindo ao Nordeste e não tinha qualquer expectativa positiva em trabalhar nos cafundós do país. Eu era essencialmente urbana, criada em cidade grande, cosmopolita e modernosa, o que eu poderia encontrar de interessante ali? Pois é, naquele dia que mudou a minha vida para sempre, eu fiz uma apresentação para umas trinta pessoas, gestores e coordenadores das escolas e, obviamente, o Sr. T estava na plateia. Então, aconteceu algo muito estranho: eu cantei como uma sereia, as palavras não reverberavam na sala, elas flutuavam como uma música e o tempo parecia que tinha parado. O efeito não foi apenas no Sr. T, as pessoas na sala ficaram me olhando admiradas, como se estivessem olhando para uma criatura mágica, me deixando completamente constrangida. Não sei o que aconteceu naquele dia, mas vou lembrar para sempre daquela sala calorenta e cheia de móveis velhos na qual o Sr. T me lançou o primeiro olhar apaixonado. Sim, foi ali que ele foi enfeitiçado, ou melhor, nós dois fomos enfeitiçados porque depois deste momento nada mais foi igual. Algum tempo depois ele me disse que eu era uma sereia ou bruxa e que tinha que ter cuidado com a minha forma de usar a voz. Claro que não existe nenhuma evidência científica nessa história e eu nem deveria estar contando uma maluquice como essa. Só estou registrando aqui porque faz parte da minha lembrança, mas a última vez que senti algo parecido foi no meu concurso para professora. Na dúvida, eu sempre tenho cuidado quando sinto algo estranho no ar e mudo a entonação rapidamente. Afinal, nunca sabemos quem está nos ouvindo...

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