sábado, 22 de janeiro de 2011

Por uma vida menos ordinária

Hoje consegui terminar a arrumação do malfadado quartinho! Foram duas semanas com muita alergia, dores nas costas e um chororô sem fim que interrompia a faxina a cada meia hora. De todas as formas de comunicação, o texto escrito ainda é o que mais me impacta. Parece incrível, mas não sucumbi ao perfil imagético da minha geração. Um bilhete me comove muito mais do que uma foto ou um vídeo. Assim, remexer na papelada do Sr. T me provocou uma angústia enorme, principalmente ao ler as suas anotações feitas à mão. Encontrei fotos, exames, reportagens de jornal, textos, documentos, papéis velhos e livros. Muitos livros. Eu pensava que a maior quantidade de livros era minha, mas descobri que a maior parte do acervo que temos em casa pertencia ao Sr. T. São muitos livros sobre teatro e literatura, alguns muito antigos (penso que são verdadeiros clássicos que nem são mais editados). O mais difícil na separação dos papéis é pensar no que será importante para Dona Maricota daqui a alguns anos. Separar a papelada pensando em quais documentos traduzem melhor a vida do Sr. T para os olhos dela no futuro, não foi uma tarefa fácil. O que ela gostaria de saber? Que interesses ela poderá ter? Vai querer saber sobre a faculdade do pai? Sobre a sua vida política? Sobre o seu trabalho como escritor? Tentei me colocar no lugar dela e pensar o que eu gostaria de saber se eu tivesse apenas uma lembrança distante do meu pai. Me deparei com tantos trabalhos, prêmios, discursos, textos, planos para o futuro... Depois de ler tudo aquilo, só pude pensar uma coisa: quanto desperdício, quantas coisas ele ainda poderia fazer! A sensação de impotência e inutilidade é quase insuportável, mas pensei na música do Lobão: é melhor viver dez anos a mil do que mil anos a dez...

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