sábado, 9 de outubro de 2010

Resignação ou aceitação?

No domingo passado Mariazinha teve uma crise ao entrar em um novo brinquedo no shopping, ela literalmente entrou em pânico! Percebi com clareza que o sofrimento nada tinha a ver com o brinquedo (um carrinho que flutua na água), era uma crise de ansiedade. Ela tem sentido muito a falta do pai ultimamente, faz perguntas, cria teorias e chora bastante. Não é uma confusão pelo que aconteceu, é realmente a saudade que se instala e a cada dia que passa nos damos conta de mais coisas que não podemos mais fazer. No trajeto da viagem para o trabalho, com a choradeira inevitável de quando fico só com os meus botões, percebi que diante de uma tragédia em nossas vidas temos duas opções: ou nos revoltamos contra o mundo e descontamos nos outros as nossas frustrações e angústias ou então nos resignamos e aceitamos o que aconteceu, tentando ser uma pessoa melhor e mais generosa com os outros. Escolhi a segunda opção, é claro, mas me dei conta que a minha resignação não significa que compreenda e aceite a minha perda. A minha resignação está relacionada com a minha humildade diante da vida (porque não seria comigo, afinal não sou melhor do que os outros), e o reconhecimento de que se existe um projeto metafísico, eu não tenho a visão do todo. Porém, mesmo considerando que eu possa merecer cada milímetro do meu sofrimento, não consigo compreender a razão para o sofrimento da minha filha. Sei que existem coisas muito piores, crianças morrem e ficam doentes todos os dias, por isso mesmo tenho que me resignar diante da angústia, mas aceitar é outra coisa. Só é possível aceitar o que se compreende, em todas as dimensões possíveis e, sinceramente? É a única peça que falta encaixar no meu quebra-cabeça da vida. Por isso mesmo eu gosto muito do final do filme Cidade dos Anjos, quando o personagem do Nicolas Cage pergunta:- Estou sendo punido, é isso? E o amigo anjo pergunta: - Se você soubesse que ela iria morrer, teria feito outra escolha? - Nunca! Eu teria feito qualquer coisa apenas para ter sentido o calor da pele dela e a textura dos seus cabelos. É isso, a parte que me coube resumiu-se aos oito anos de convívio, mas se eu soubesse que seria tão breve, ainda assim, não teria feito outra escolha!

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