domingo, 24 de outubro de 2010

São apenas objetos

Ontem eu consegui entregar vários objetos pessoais do Sr. T para que os meninos pudessem separar as coisas que gostariam de guardar e doar o resto. É muito difícil nos separarmos das lembranças, mas elas precisam ser positivas e não motivo de tristeza. Por coincidência, assisti ao desenho Up e percebi que o Sr. Fredricksen tinha o mesmo apego pelos seus objetos por causa das lembranças da sua falecida esposa. O filme mostra o descaso com os idosos e a importância de se preservar as suas lembranças (ele chega a arrastar a sua casa com uma corda por quilômetros!), mas também aponta para a importância do desapego e a necessidade de se seguir em frente. Sim, eu sei que são apenas objetos, mas são também "pontes" da minha memória afetiva que me conectam com o passado. Para se tornarem lembranças positivas, os objetos precisam adquirir um papel de representatividade especial, e não apenas ser o resultado da impossibilidade de selecioná-los. O avaro é aquele que deseja acumular apenas para "possuir" sem nenhum critério de representatividade que não seja a quantidade. O valor sentimental está na seleção cuidadosa daquilo que melhor representa a lembrança que você deseja conservar. Assim, guardei algumas coisas que eu melhor identificava com o Sr. T (pensando nas lembranças mais marcantes para Mariazinha) e deixei que o resto fluísse para outras mãos, com outras representações. O desapego não é um processo fácil, mas é sempre necessário.

Um comentário:

  1. Beatriz,
    quando meu pai se foi, sem conseguitmos nos despedir, foi o pior momento que já passei. Então, a despedida se trasferiu para os objetos dele que fiquei - todos os livros e discos de vinil, só. Um dia em casa inventei uma arrumação que na verdade foi um ritual de despedida, só hoje percebo. Separei alguns livros - livros + ou - raros como história do medo no ocidente -, "vi" neles mofo e bactérias e joguei no lixo na frente de minha casa. Cheguei a pensar em queimá-los - desisti. Voltei pro sofá, chorei um pouco e voltei a transferir tudo do lixo de volta pra dentro de casa. Nossa história com os livros e os discos foi simplesmente única. Então vi que esse ato momentaneamente egoísta meu, além de não compensar a partida dele sem aviso e a dor do luto não elaborado previamente, iría marcar a impossibilidade de futuros resgates.

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