domingo, 27 de março de 2011

Casamento burguês

Antigamente, os casamentos entre os nobres eram arranjados para garantir a perpetuação da riqueza das famílias. O nível de entesouramento não era o suficiente para garantir que as pessoas ricas se casassem com pobretões (não existia especulação financeira naquela época, é claro!) e o amor romântico não era prioridade. Com o surgimento da burguesia, temos o casamento por amor e, embora a expressão bom partido tenha substituído os pré-requisitos da nobreza, a liberdade de escolha foi ampliada. Porém, se na nobreza os contratos eram realizados antes do casamento, na burguesia ele é estabelecido depois da união formal. Uma vez casados, a dupla inicia um processo de acumulação de riquezas e ascensão social que inclui a casa própria, a casa da praia, o carro do ano, os filhos (sim, os filhos também fazem parte do pacote), a progressão na carreira e todos os símbolos de status das pessoas bem sucedidas. É claro que a responsabilidade por manter tantas variáveis sob controle, o sucesso profissional, a acumulação de bens e a criação dos filhos, torna a vida a dois muito mais difícil. Em alguns momentos, as pessoas já não sabem se estão juntas na jornada da vida por uma escolha afetiva ou financeira e a pressão pelo sucesso é quase insuportável. Os prós e contras do casamento não são mais analisados sob a perspectiva dos elementos afetivos, são consideradas também as perdas financeiras. "Ele me faz sorrir" ou "adoro o seu cheiro" são eclipsados por "eu tenho uma vida confortável, os meus filhos estão acostumados com um padrão de vida alto". Neste momento, a infelicidade costuma ser inversamente proporcional a quantidade de coisas que podemos comprar, gerando endividamento e formação de hábitos que reforçam a dependência e impossibilitam a autonomia. Por isso mesmo, compra-se cada vez mais coisas para preencher o vazio da alma, ou então, busca-se nas relações fora do casamento a afetividade perdida. Parece loucura, não? E é mesmo! Parece incrível, mas quando não se tem absolutamente nada, a relação fica mais fácil. Sem expectativas de acumular coisas, toda a energia do casamento fica direcionada para a relação, a prioridade está nos elementos afetivos e sexuais. Os oito anos em que passei com o Sr. T foram os mais pobres da minha vida (dentro dos parâmetros burgueses). Faltava grana para quase tudo, mas a vida seguia apesar de. Não tínhamos dinheiro para almoçar fora? Bora cozinhar juntos! Sem grana para ir ao cinema ou fazer um programa diferente? Bora assisti DVD e transar a noite toda! É claro que não é nada engraçado quando você não tem dinheiro para pagar a conta de luz ou atrasa o condomínio, mas tudo isso faz parte das nossas escolhas e sempre podemos acreditar que as coisas vão melhorar. Um dia, depois de uma discussão, eu disse para ele que tinha certeza que a nossa relação era essencial para a minha vida por uma razão simples: todas as manhãs eu me perguntava se queria estar ali, vivendo aquela vida. E todos os dias eu renovava a minha certeza porque a resposta era sempre a mesma: sim. Independente das dificuldades, da falta disso ou daquilo, era exatamente ali que eu queria estar. E por mais improvável que possa parecer, isso bastava!

3 comentários:

  1. Aqui é nosso espaço de reflexão... um abraço Ana.

    ResponderExcluir
  2. Jackson,

    Obrigada! Não sei se consigo promover reflexões a partir dos meus textos, mas escrever tem me ajudo muito a refletir sobre a vida.

    Beijos

    ResponderExcluir